MAUS
TRATOS NA INFÂNCIA E
O
SISTEMA LÍMBICO
Carla
Helena Gräff ¹
Clarice Luiz Sant’Anna²
RESUMO
A criança/adolescente absorve os
estímulos do meio onde vive, sejam eles positivos ou negativos. Maus tratos
geram cicatrizes externas, mas principalmente, produzem cicatrizes internas
profundas, dolorosas. Com a desvinculação familiar acontece a adaptação às
instituições de Abrigo de Menores. Esses indivíduos enfrentam diversos
obstáculos emocionais. Cada caso é especifico, porém há processos emocionais
recorrentes, como a culpa, a raiva, a tristeza, a compreensão, a redescoberta
de si, a conquista da autoestima, a alegria. Não necessariamente nessa ordem,
nem somente esses sentimentos. Após um apanhado histórico da situação
investigada, há um breve relato das emoções e suas reações.
Palavras – Chave: Abrigo
de Menores. Criança/Adolescente. Família. Emoções.
1
INTRODUÇÃO
O
seguinte artigo trata das diversas realidades vivenciadas nas instituições de
abrigo infantil, a ênfase do trabalho está na questão de como a
criança/adolescente lida emocionalmente com a situação de maus tratos e em como
ela compreende e avalia a sua situação em diferentes momentos e em diversas
perspectivas. Tomado para exemplo e estudo de caso um determinado local, uma instituição
de abrigo infantil no Vale do Taquari, levando-se em consideração que nesse
espaço socializam-se distintas realidades. São diversas as situações que levam
a criança à casa de Abrigo, indiferente do local onde atue a instituição as
situações são semelhantes.
Pretende-se
através deste artigo a compreensão do ciclo emocional regente na maioria dos
casos avaliados onde a criança/adolescente desenvolve a capacidade de se
entender intimamente e compreender sua situação familiar como impropria, concluindo
que a instituição onde está é um lar, e neste ela se encontra protegida das
ameaças externas.
A
pesquisa teve diversas abordagens, para as quais houve um procedimento
diferenciado em cada etapa. Para abordagem do cotidiano da instituição, durante
um largo período, realizou-se um acompanhamento com as crianças/adolescentes do
local. Para o entendimento do processo socioemocional, adaptação e processo de
identidade realizou-se uma entrevista com a psicóloga e a pedagoga responsável
pela instituição. Para a associação das informações ao processo emocional
cerebral realizou-se uma pesquisa psicológica e neurofisiológica teórica.
A
contribuição desse tema para o contexto educacional e social é de suma
importância, pois o contexto familiar é uma realidade a se levar em
consideração quando se busca compreender o aluno/paciente que esta sobre responsabilidade
do professor/neuropsicopedagogo. Com a compreensão do processo emocional e as
diversas manifestações dessas, a intervenção profissional será eficiente.
As
informações que esse indivíduo absorve constantemente, a carga emocional com
que lida em seus dias são obstáculos para a aprendizagem e o convívio social,
pois, geralmente, a criança/adolescente representa as experiências de seu
cotidiano através de ações agressivas, palavras ofensivas ou retrai-se, pois
não se vê confortável em conversar sobre o assunto.
A criação e as
experiências traumáticas têm efeitos fortes no desenvolvimento da
personalidade. O ambiente interfere na ação de alguns genes e compromete o
resultado de desenvolvimento de uma pessoa. O comportamento não pode ser
estudado sem a percepção das circunstâncias do mundo externo onde ele se
manifesta e contribui para a sua emergência. (FRAZZETTO p.
35).
A
compreensão do processo emocional, fisiológico e socioafetivo dos indivíduos
que possuem traumas familiares, tendo ou não se afastado de suas famílias,
possuem características em comum. O olhar diferenciado para com essas
situações, o compreensão dos ciclos e a observação continua podem direcionar
positivamente uma determinada situação.
1
GRUPO
FAMILIAR
O grupo familiar tem como função
primordial educar a criança para que ela desenvolva sua moral e valores de
acordo com a cultura que vivenciam nesta sociedade, devendo também preparar a
criança para futuramente ser um indivíduo que atuará em prol dessa sociedade, vindo
a realizar atividades produtivas já existentes ou inová-las.
Na
família se encontram os diferentes papéis que a criança absorverá e
representará. A menina reproduzirá o que aprende e observa da mãe, o menino
representará o que observa no pai. Por tanto esses adultos são responsáveis
pela modelo de conduta, pela representação dos papéis sociais, masculino e
feminino, das normas e valores que a criança adquirir. Esse processo de
memorização de condutas, valores, culturas, palavras entre outros fatos
vivenciados, dão origem aos diferentes tipos de memória do ser humano. Antunes (2012, p.15) explica o processo de
memorização:
Ao
recebermos uma informação de nossos sentidos – uma palavra, um som, um cheiro
etc. – ocorre à primeira etapa do processo de memorização que é a assimilação e
através desta operação essa informação é enviada, simultaneamente, para a
memória de curto prazo e a memoria de longo prazo. Nesse exato momento, quem
passa a trabalhar freneticamente é o hipocampo, localizado entre as orelhas,
bem no fundo da cabeça. O hipocampo é quem, depois de trabalhar os dados, usa e
joga fora informações de curto prazo e se encarrega de enviar outras para
diferentes partes do córtex cerebral. Essas informações, aí chegando, se
envolvem em uma verdadeira “sopa química” que passa a provocar “conversas”
entre os neurônios. Nessa fase, o hipocampo descansa e quem passa a trabalhar é
o lobo frontal. Essa parte do cérebro é assim como um “coordenador geral” das
diversas memórias e responsável pela guarda das informações, depois de classificá-las
segundo seus diferentes tipos. Nessa área cerebral as diferentes memórias se
completam dando origem ao raciocínio. (ANTUNES¹, 2012 - 15).
Dentro
desse contexto social encontramos famílias liberais e famílias conservadoras,
nas quais os indivíduos pertencentes a tais grupos aprenderão de formas
diferentes a expressão de suas emoções, suas crenças, os tabus e as limitações culturais
de tal grupo.
Ao
controlar as emoções facilitam-se determinados scripts culturais, que são, dentro
dessa cultura, a resposta adequada frente às diferentes situações existenciais,
existindo assim um modo de agir pré-determinado.
A teoria da afetividade pressupõe que as emoções são comportamentos apreendidos no processo de socialização. “As emoções consistem essencialmente a certo
tipo de situação. Atitudes e situações correspondentes se implicam mutuamente,
constituindo uma maneira global de reagir e que é de tipo arcaico e frequente
na criança.” ALFANDÉRY (2010, p. 70). Cada cultura possui uma forma de socialização
e tem formas variadas de exprimir as diferentes emoções, ou seja, as emoções
são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso, dependem da
cultura em que o indivíduo está inserido. Considerando as culturas onde ocorre
a repressão de sentimentos como o ódio, raiva, inveja, entre outros, considerados
inadequados socialmente, torna-se o processo de aprendizagem emocional
totalmente afetivo, enviando ao inconsciente, registros de que esses
sentimentos são proibidos de representação; o inconsciente grava essa mensagem
e toda vez que tal sentimento é demostrado por essa pessoa ou por outra, a
mensagem é acessada e o individuo se conscientiza que sente algo errado.
A
socialização seria esse processo de apropriação do mundo social. “Com suas normas, valores, modos de
representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva; é o
processo de constituição de uma realidade subjetiva, que se forma a partir das
primeiras relações do individuo com o meio social” (BOCK, 1995, p.209). A
família tem como função ser a socializadora dos seus filhos. Na atualidade são
inúmeras as “receitas para se educar os filhos”. A maioria das famílias deseja
um futuro digno e maravilhoso para seus filhos. Buscam informação, são atenciosos,
procuram referencias de boas escolas como forma de obterem boa educação, porém
esse empenho nem sempre é garantia de resultado positivo. São diversas as
realidades das famílias, como diversos os objetivos e metas que buscam ou
impõem para seus filhos, como também a diversidade no empenho ao cuidado e a
educação dos mesmos. “Algumas vezes os
pais sentem-se cansados, desgastados e inseguros. Por isso adotam posturas
comodistas frente aos filhos” (ZAGURY 1995, p.140).
Há casos de famílias sem estruturas
financeiras, mas esse não se torna um motivo para a interferência social nestas,
podendo elas usufruir de programas sociais. Mas, há situações de famílias sem
estrutura moral e social para garantir o desenvolvimento saudável dos menores e
nesses casos sim, é necessária a interferência de órgão públicos protetores dos
direitos infantis. O sistema municipal de Assistência Social é acionado em
diversos casos. Há distintas realidades. Enquanto umas necessitam de amparo e
acompanhamento, há outros que, após diversas tentativas de reestruturação
familiar sem sucesso e casos extremos onde a criança corre risco de vida,
opta-se em conduzir os menores à instituição de Abrigo de Menores. Em muitos
desses casos os pais são despreparados e imaturos para impor disciplina a uma
criança ou acabam sendo eles o motivo de perigo para essa criança. “Estabelecem uma relação interpessoal,
marcada por formas abusivas de controle e de poder de um sobre os outros, em
que a comunicação e o afeto são substituídos pela imposição física”
(KOLLER, 2011, P.316). Quanto mais à criança reivindicar, reagir ou até se
expressar exigindo resposta, mais os adultos usarão da força, no livro Limite
na medida certa, o autor coloca o conflito entre pais e filhos exemplificando
um caso da seguinte maneira:
E Então a mãe
toma uma atitude, o filho reage, ela passa por cima dessa reação e lhe dá uma
bronca ou castigo porque deseja manter a sua decisão. Está configurado o abuso
de poder da mãe, que é maior em tamanho e em capacidade de argumentação. Resta
acriança engolir suas reações para não desencadear a irritação da mãe (TIBA2013,
p.50).
São inúmeras as situações de risco que
levam a criança a casa, tais como abandono de incapaz, abuso sexual, falta de
responsável legal, evasão escolar, vida desregrada/comportamento irregular do
(da) infante/adolescente, uso de drogas e/ou prostituição (configurada ou
suspeita), falta de cuidados pelos pais ou responsáveis, desentendimentos
familiares, entre outras. A criança/adolescente é retirada do lar prejudicial
ao seu desenvolvimento sadio e acolhida nesta instituição.
O desrespeito e a crueldade para com a
criança, menor de idade, não é exclusividade em nosso país, nem da atualidade.
Ao longo da
história as crianças já foram usadas como mão de obra barata durante a
Revolução Industrial; na época das grandes navegações; já foram sacrificadas em
nome de deuses e deusas; foram feitas prostitutas; foram sacrificadas por
nascerem com problemas físicos; foram sacrificadas em seitas religiosas (VASCONCELOS
2010, p. 187).
Por diversas atrocidades praticadas
contra a criança a ONU publicou em 20 de novembro de 1959, a Declaração dos
Direitos da Criança, a qual serviu de base para os governos modificarem a forma
de legislar esse tema. Anos mais tarde o Governo Brasileiro sanciona a Lei Nº
8069, no dia 13 de julho de 1990. Com base no ECA-Estatuto da
Criança e do Adolescente, o qual rege os direitos da criança e do adolescente
constam a seguir artigos sobre o tema abordado no artigo:
Art. 17. O direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia,
dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar
pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer
tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 18-A. A criança e o
adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo
físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes
da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de
medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles,
tratá-los, educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os
fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico: ação de
natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a
criança ou o adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II - tratamento cruel ou
degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao
adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.
Art. 18-B. Os pais, os
integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos
executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar
de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que
utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de
correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem
prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas
de acordo com a gravidade do caso:
I -
encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família;
II - encaminhamento a tratamento
psicológico ou psiquiátrico
III - encaminhamento a cursos ou
programas de orientação
IV - obrigação de encaminhar a
criança a tratamento especializado;
V - advertência
Art. 19. Toda criança ou
adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e,
excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e
comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.
§ 1o
Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento
familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6
(seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório
elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma
fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em
família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta
Lei.
§ 2o A
permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento
institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada
necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela
autoridade judiciária.
§ 3o A manutenção ou
reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em
relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em
programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23,
dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art.
129 desta Lei.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever
de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no
interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações
judiciais.
Art. 23. A falta ou a
carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou
a suspensão do poder familiar.
Art. 24. A perda e a suspensão
do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento
contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art.
22.
Art. 70. É dever de todos
prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente.
Art. 70-A. A União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada na
elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o
uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas
não violentas de educação de crianças e de adolescentes. (...).
Art. 98. As medidas de proteção à
criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos
nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do
Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou
responsável;
III - em razão de sua conduta.
Art. 101.
Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente
poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
VII -
acolhimento institucional
§ 1o
O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e
excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar
ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não
implicando privação de liberdade.
§ 2o
Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de
violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei,
o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência
exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do
Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento
judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o
exercício do contraditório e da ampla defesa.
Art. 130.
Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos
pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida
cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
Parágrafo único. Da medida
cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem
a criança ou o adolescente dependente do agressor.
São importantíssimos os esforços
políticos das organizações e de agentes sociais propondo maneiras diversas de
proteção às crianças, especialmente nos países em desenvolvimento. As
iniciativas para com a justiça social são fundamentais, pois permitem que os
avanços tecnológicos, o mercado globalizado e o progresso não discriminem os
direitos e os valores infantis, ou seja, de uma parcela da população que não é
responsável por si, mas sim dependente dos adultos.
A legislação prima por proteger a
criança/adolescente, mas as leis nem sempre são cumpridas. É dever de a família
cumprir a legislação que a cabe, porém a sociedade também deve fazer valer os
direitos infantis propondo para essa proteção, amparo e respeito. A família é a
primeira opção como lar, porém quando essa não cumpre o seu papel social, deixa
de ser a melhor opção para o menor.
2.
ADAPTAÇÃO, PROCESSOS NEUROPSICOLÓGICOS E A REINVENÇÃO DO TERMO LAR.
A
pesquisa iniciou através de uma visita e a interação com o grupo da
instituição, seguindo da formulação de um questionário de entrevista com a diretora
e com a psicóloga. Na fala da diretora pedagoga Carmem Salete Fridrish ela
coloca a situação que ocorre na maioria dos casos, onde a criança/adolescente
encara a chegada ao abrigo como um castigo, a visão negativa do fato é comum,
pois a criança tende a se punir pelo ocorrido. “Essa mesma criança pode perceber a entrada na instituição como uma
forma de exclusão que, somado aos fracassos experienciados, contribuem para
diminuir a sua autoestima” (KOLLER,2011, p.118). Ao ingressar em um novo
lar, é necessário um período de adaptação. Tem-se então o período de
psicoadaptação (capacidade de suportar a
dor, transcender obstáculos, administrar conflitos, contornar entraves,
adaptar-se as mudanças psicossociais, CURY, 2015, p.118); o qual gera o
fenômeno de resiliência. “O grau de
resiliência depende, portanto, do grau de adaptabilidade e da capacidade de
superação de um ser humano aos eventos que encontra em seu traçado existencial,
em sua jornada de vida” (CURY, 2015, p.118). Esse processo varia de criança
para criança. Através do convívio percebem que as pessoas que trabalham ali a
compreendem, respeitam-na e se importam com ela; criando laços afetivos de
igual valor a uma família. Percebem também que nessa casa há determinadas
regras que ela deve seguir e limites que não podem ser ultrapassados, que o
respeito existe e deve der mantido em quaisquer situações.
A
institucionalização não é defendida por todos, para alguns pesquisadores ela
possui pontos negativos. O que preocupa vários pesquisadores é a não interação
e participação dos indivíduos para com um ambiente variado e distinto,
reforçando a estigmatização e os preconceitos contra esses indivíduos.
A
vivencia institucional pode apresentar tantos ou mais fatores de risco quanto à
rua para a criança, pois o ambiente institucional e as relações estabelecidas
nesse meio influenciarão seu desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, bem
como a construção de suas identidades e seus projetos futuros (KOLLER, 2011
p.203).
Nas
palavras da Diretora e Coordenadora Pedagógica: “Esta casa não é vista como um
depósito de crianças”; possui e trabalham com a crença de que a
criança/adolescente pode reescrever a sua história, tendo um futuro diferente
daquele que o trouxe para a casa. As etapas de adaptação vencidas pelos
indivíduos e os resultados positivos obtidos das mais diversas formas são
comemorados com recompensas positivas, e na maioria dos casos, as recompensas
são elogios, aumentando a autoestima destes, incentivando o conhecimento e a
troca de valores entre todos da casa.
A
educação para a autoestima deve distanciar-se de palavras como “erro” e “culpa”
e pela descoberta de que aprender a viver é como descobrir um caminho. Contando
com ajuda criarão quadros de si mesmas como indivíduos valorosos e
bem-sucedidos, com uma boa autocompreensão e um bom autocontrole. (ANTUNES² 2014,
p.22).
Após
o período de 4 a 5 meses, as crianças e adolescentes fazem uma auto avaliação
de sua estadia na instituição abrangendo os mais diversos pontos;
comportamento, conflitos, relacionamento, escola, amigos, sentimentos. As
soluções também partem desses indivíduos; dentro da sua realidade, cada um
procurará a melhor solução para a sua situação.
Quanto
mais a criança compreende sobre seus próprios conceitos, mais facilmente
identificará a necessidade de mudança nos mesmos; quanto mais compreender o
conceito dos outros, mais facilmente estabelecerá relações de convívio. Assim,
pois, o “eu” é simplesmente um conceito apreendido como outro qualquer e sujeito
às possibilidades e mudanças em direções positivas. ANTUNES² (2014, p.23).
O
progresso muitas vezes é lento, dada as suas experiências e autoestima.
É
muito difícil uma criança expor suas vivencias traumáticas, mas há momentos em
que o desabafo acontece; frequentemente as crianças/adolescentes não se expõem
aos funcionários da instituição preferindo ficarem nesses momentos solitárias.
Além de ser um momento de choro, de angústias, também é um momento de reflexão,
de pensar. “Toda criança também quer ser
escutada” (ALVES, 2005, p.29), por esse motivo as monitoras, assim como a
diretora e a psicóloga, demonstram-se prontas para ouvir e orientar. O modo
como esse indivíduo se relacionar com seu “eu” interior, as emoções como raiva,
medo, empatia, culpa, vergonha e autoestima as que sobressaírem serão os
motivadores do seu comportamento moral.
Há,
além do fator ambiental, o fator genético como defende o escritor Frazzetto (2014,
p.35) afirmando que:
A
origem dos traços comportamentais é mais complexa. A maioria dos traços é
“poligênica”, ou seja, envolve uma mistura de muitos genes ao mesmo tempo. O da
MAO-A é, até hoje, certamente o mais estudado e mais ligado à agressão. O que
complica é que o gene pode ser responsável por mais de um comportamento. [...]
(2014, p.38) Um ingrediente essencial (...) na receita da violência: uma
infância ruim [...] É a presença do gene em combinação com um ambiente hostil
que aumenta a possibilidade do desenvolvimento do comportamento antissocial.
Conclui-se
então que o ser humano deve ter uma pré-disposição genética para o
comportamento agressivo acrescentado de um ambiente hostil que favoreça esse
desenvolvimento antissocial. Isso explicaria os casos de crianças que vivenciam
situações extremamente brutais e não se tornam adultos brutais, mas ao
contrário, solidários, bondosos e humildes.
Nas
palavras da psicóloga da instituição Rosilene Lima, especialista em avaliação
neuropsilógica, pode se confirmar o que a diretora já havia exposto. Como as
crianças/adolescentes que são encaminhadas para a instituição vivem em
ambientes de conflitos com agressões, a tendência é que reproduzam as mesmas
ações, as quais já aprenderam e dominam a técnica. Para elas o período de adaptação
é relativo, algumas crianças se adaptam a casa em dias ao passo que outras
necessitam de semanas ou meses. O modo como o indivíduo enfrenta a sua
realidade, com autoestima elevada ou baixa é um dos determinantes.
O
processo de adaptação durante os primeiros dias é difícil; há a mudança de
ambiente e a mudança de regras, o sofrimento pela perda, pelo distanciamento, a
indiferença à situação, a culpa e a revolta.
A
avaliação dos estímulos presentes no novo ambiente acontece rapidamente no
sistema nervoso, as emoções são ativadas em milésimos de segundos ativando
órgãos correspondentes a determinadas emoções; e para harmonizar-se novamente o
corpo leva algum tempo. Nesse caso o sistema nervoso límbico é o responsável
pelas emoções. Nele acontece a interpretação de que emoção sentiu-se e a
transmissão da mensagem ao sistema nervoso simpático o qual direcionará os
estímulos aos órgãos correspondentes, isso tudo muito antes do córtex frontal
tomar consciência do sentimento, o que ocorre milésimos de segundo depois,
quando o processo límbico já está todo realizado. Ao acionar o sistema
Simpático, este reproduz fisicamente os efeitos das emoções, sendo capaz de
frear o sistema autônomo, órgãos e sistemas, percorrer sensações de calafrios
ou de extremo calor por praticamente todo corpo, quando emoções muito intensas.
A situação de medo e de estresse, por exemplo, descarrega uma grande quantidade
de adrenalina no sistema circulatório, aumentando a frequência respiratória e
os batimentos cardíacos, o corpo permanece em sentido de vigília, de alerta.
Nesta situação o sistema nervoso periférico simpático prepara o organismo para
reagir em caso de medo, excitação e estresse, adequando o funcionamento de
diversos sistemas internos para o estado de prontidão. Após transmitir pelo
corpo os estímulos, entra em ação o sistema nervoso parassimpático que
desestimula, freia as áreas estimuladas, fazendo com que determinadas sensações
corpóreas diminuam até o corpo se normalizar, dependendo da intensidade da emoção
esses efeitos podem durar minutos ou até dias.
A
psicóloga usa de várias técnicas para o acompanhamento das
crianças/adolescentes da casa. O primeiro passo é o fortalecimento e elevação da
autoestima, quando esse indivíduo passa a encarar os fatos com outro olhar, eleva
seu bem estar, fortalecendo, posteriormente, vínculos e valores com pessoas
diferentes, que lhe transmitem o sentimento de segurança. Na instituição,
através de todos os funcionários, a tentativa constante é de repassar valores
positivos ao indivíduo, transmitir o máximo de afeto possível e o respeito
recíproco.
O
indivíduo que chega à instituição traz consigo muitos conflitos internos.
Diversos sentimentos misturam-se. Destaca-se, na maioria das vezes a culpa.
Sente-se como o causador da situação vivida e vê, como forma de punição, estar
no Abrigo de Menores. Com o acompanhamento psicológico, a compreensão dos fatos
muda, faze-lo perceber-se vítima dos fatos e a partir daí, focá-lo em direção ao
futuro. O que ele é capaz de realizar, quais são seus interesses. A criança que
foi vítima não é influenciada a agir como tal, mas sim em buscar seus valores,
suas crenças e a partir disso continuar a sua história sendo o sujeito ativo, o
qual decide os rumos que vai seguir. ”A
verdade, por sua vez, não deve jamais ser negada ou omitida” ANTUNES² (2014,
p.37). Os fatos que vivenciou fazem parte das suas memórias, porém, com o
olhar direcionado para outros focos de atenção, a lembrança desses passa a ter
significados diferentes.
Analisando-se
as informações conclui-se que através das medidas educacionais usadas a
criança/adolescente é incentivada a desenvolver a sua inteligência interpessoal
- sua localização cerebral fica nos lobos frontais-
que é a capacidade
de compreender as outras pessoas, compreender e analisar o que as motiva, como
elas trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas. “Em outras palavras, paciência, persistência,
objetividade, coerência e competência aplicados à educação resultavam em
sucesso significativo na mudança comportamental.” (ANTUNES¹, 2012 p.18). As crianças são incentivadas,
principalmente, a desenvolver a inteligência intrapessoal - sua localização cerebral
fica nos lobos frontais - que é uma capacidade correlativa voltada para dentro de si
mesmo. É a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de
utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. “Os traços de personalidade são relativamente duradouros e podem estar
ligados a fatores de temperamento, mas os estados de personalidade são
flutuantes e relacionam-se á disposição e à forma como as pessoas são tratadas
e como se sentem em relação a si mesmas e em relações interpessoais” (ANTUNES²,
2014 p.18).
Quando
o indivíduo é portador de necessidades especiais à instituição agrega outros
profissionais ao acompanhamento dele, havendo diversas parcerias com outras
instituições como APAE, fisioterapeuta e prestação de serviços como o SUS e o
atendimento no PSF, entre outras se necessário.
Quando
a necessidade desse indivíduo não é visível o desenvolvimento psicológico e
social torna-se complexo. Há maiores dificuldades afetivas, de convivência e de
relacionamento, tornando o acompanhamento psicológico e neurológico de suma
importância; além das dificuldades neurofisiológicas precisam lidar com o
bulling social. Nesse caso há também o acompanhamento de profissionais como
psiquiatra e neurologista, pois os instrumentos psicológicos não funcionam
corretamente.
3.DESENVOLVIMENTO
PSICOSSOCIAL NOS TRÊS PRIMEIROS ANOS DE VIDA
Em
nenhuma outra fase a diferenciação de funções cerebrais será tão intensa quanto
na infância. Toda a organização de tecidos cerebrais, biológica e material,
será fortemente influenciada, dirigida, regulada e nutrida na relação que o
bebê estabelece com os outros seres humanos e com a sociedade onde crescer. O desenvolvimento
cerebral e biofísico se completa em sociedade, na cultura e na história onde
esse indivíduo se inserir. O crescimento e amadurecimento do cérebro humano são
lento e gradual, pesquisas têm demonstrado de forma consistente que os três
primeiros anos de vida são críticos para o desenvolvimento emocional e
cognitivo da criança. Durante este período ocorrem 75% do crescimento do
cérebro.
Embora
o desenvolvimento fisiológico dos bebês apresente os mesmos padrões, cada bebê
já no início da vida, apresenta diferentes características quanto a sua
personalidade, o que torna cada pessoa única. As características individuais de
cada um, associadas às vivencias sociais resultarão nas mais variadas formas de
socialização, de acordo com a autora Papalia (2010, p. 193) “da primeira infância em diante, o
desenvolvimento da personalidade se entrelaça com as relações sociais, essa
combinação é o desenvolvimento social”.
O
desenvolvimento emocional apresenta uma ordem: geralmente emoções complexas se
dividem em emoções mais simples. As emoções tem início na primeira infância, no
entanto essas reações podem mudar com o passar dos anos e também com a cultura
a que esse indivíduo fará parte. A cultura tem grande impacto na maneira como o
individuo representará as suas emoções e qual a visão que terá de determinada
situação.
A
identificação das emoções nos bebês é difícil, pois não há comunicação, o
observador as avalia através de expressões faciais, porém, não são precisas. As
emoções participam em todas as fases do desenvolvimento humano. PAPALIA diz que:
As
emoções estão intimamente ligadas a outros aspectos do desenvolvimento. Um
recém-nascido, por exemplo, que é negligenciado emocionalmente - ninguém o
abraça, acaricia ou fala com ele – poderá apresentar insuficiência de
crescimento não-orgânico, isto é, incapacidade de crescer e ganhar peso, apesar
de adequadamente nutrido. O bebe geralmente melhora quando é transferido a um
hospital e recebe apoio emocional. (PAPALIA, 2010, p.194).
No
principio, a criança depende totalmente da atenção que recebe dos pais, da
interpretação dos mesmos para ter suas necessidades atendidas.
O
auge da maternidade acontece nesta hora: amamentar a criança e iniciar com ela
uma relação muito íntima. Nessa interação a mãe transmite para a criança o modo
de ser da família (como somos), isso é essencial para ajudar o filho a formar
seu ser psicológico, pois a criança traz ao nascer apenas seu ser biológico
(cromossomos). O pai deve ter muita
saúde psicológica para participar do gesto de alimentação, que tem um imenso
significado afetivo. Afinal, a criança não precisa só de leite. (TIBA, p.38-39)
Todas
as experiências infantis acabam por estimular e repercutir por toda a
organização neural. Crianças que sofreram abuso físico muitas vezes manifestam
ao mesmo tempo retraimento, agressividade e atribuem hostilidade aos outros.
Crianças vítimas de maus-tratos apresentam frequentemente padrões incomuns de
desenvolvimento emocional, apresentando desempenho deficiente em tarefas que
avaliam reconhecimento e expressão de emoções. Sentimentos e emoções
influenciam o comportamento humano.
4. O SISTEMA LÍMBICO E AS EMOÇÕES
As emoções são uma consequência de imaginação
e inúmeros pensamentos simultâneos, que ocorrem no sistema cerebral reagindo
fisiologicamente aos acontecimentos ambientais do cotidiano. Elas colaboram no
controle das relações sociais, indicando aos demais a própria intenção através
da postura e das ações. A emoção é uma experiência subjetiva que envolve a
mente e o corpo da pessoa. É uma reação complexa desencadeada por um estímulo
ou pensamento e envolve reações orgânicas e sensações pessoais. “As emoções determinam nossa qualidade de
vida. Elas acontecem em todos os relacionamentos que nos interessam: no
trabalho, em nossas amizades, nas interações familiares e nos relacionamentos
íntimos”. (EKMAN 2011, p.13).
As emoções são a forma que a
natureza encontrou para propiciar aos organismos comportamentos rápidos e eficazes
orientando para a sua sobrevivência. Emoções e sentimentos
são meios naturais de avaliar o ambiente
que se rodeia e de reagir de forma adaptativa, fazendo com que o ser
humano busque algo satisfatório ou então que evite a insatisfação. As emoções
influenciam a saúde não apenas em decorrência da psico-neuro-fisiologia, mas
por possuírem caráter motivacional, auxiliando os humanos a buscarem condutas
saudáveis como exercícios, dietas, lazer e companheirismo.
O
Sistema Nervoso é formado por diversos sistemas. O Sistema Límbico (Anexos-Imagem 3) é responsável
primordialmente por controlar as emoções e secundariamente participa das
funções de aprendizado e memória, podendo também participar do sistema
endócrino, é o responsável pelo recebimento dos estímulos e pelo acionamento
dos mecanismos físicos.
Como tantos dos centros
superiores se desenvolveram a partir do âmbito da região límbica ou a
ampliaram, o cérebro emocional desempenha uma função decisiva na arquitetura
neural. Como raiz da qual surgiu o cérebro mais novo, as áreas emocionais
entrelaçam-se, através de milhares de circuitos de ligação, com todas as partes
do neocórtex. Isso dá aos centros emocionais imensos poderes de influenciar o
funcionamento do resto do cérebro - incluindo seus centros de pensamento (GOLEMAN,
1995 p.13).
O Sistema Nervoso juntamente com as
glândulas do sistema Endócrino tem relevante papel nas manifestações
comportamentais das pessoas. “Os limites
geográficos do cérebro, no que tange à realização de tarefas racionais e à
emoção, se misturam. A parte pré-frontal do cérebro tem controle da
racionalidade, mas também contribui para emoção” (FRAZZETTO, 2014 p.26). Ativado
o sistema nervoso por uma emoção, por exemplo, a glândula suprarrenal (Imagem
1) produz hormônios em resposta ao estresse, e este é derramado na corrente sanguínea,
acelerando a sua circulação, provocando a aceleração das batidas cardíacas.
As diversas
estruturas localizadas na base medial do cérebro coordenam o comportamento
emocional e os impulsos motivacionais. “À
medida que evoluía, o sistema límbico foi aperfeiçoando duas poderosas
ferramentas: a memória e a aprendizagem”. (GOLEMAN, 1995 p.12). O sistema límbico tem formato de um anel cortical e é um
conjunto de estruturas do cérebro.
Fazem parte dessa estrutura o Tálamo, Hipotálamo, Corpos mamilares, Hipocampo,
Amigdalas e Giro Cingulado. Localiza-se na parte medial do cérebro, nos
mamíferos.
O
sistema límbico, quando recebe um estímulo sensitivo (audição, paladar, visão,
tato), envia essas informações para o tálamo e o hipotálamo que elabora
respostas aos estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso
autônomo. É responsável por diversas funções importantes como: regulagem do
sono, pela libido, controla o apetite e também controla a temperatura corporal;
quando a temperatura aumenta o hipotálamo age na dilatação dos capilares para o
resfriamento sanguíneo.
A
pesquisa de Le Doux e outros neurocientistas parece agora sugerir que o
hipocampo, há muito considerado a estrutura-chave do sistema límbico, está mais
envolvido com o registro e a atribuição de sentido aos padrões perceptivos do
que com reações emocionais. A principal contribuição do hipocampo está em
fornecer uma precisa memória de contexto, vital para o significado emocional; é
o hipocampo que reconhece o significado de, digamos, um urso no zoológico ou em
nosso quintal. (GOLEMAN 1995 p.17).
O
tálamo é responsável por quatro sentidos: tato, paladar, visão e audição e
também é responsável pelas sensações de dor, quente ou frio e a pressão do
ambiente, identificando quando há perigo, medo e ansiedade.
As amígdalas (Anexos- Imagem 2) são
responsáveis por memórias emocionais.
Enquanto
o hipocampo lembra os fatos puros, a amígdala retém o sabor emocional que os
acompanha. Se tentamos ultrapassar um carro numa estrada de mão dupla e por
pouco escapamos de uma batida de frente, o hipocampo retém os detalhes
específicos do incidente, como em que faixa da estrada estávamos, quem estava
conosco, como era o outro carro. Mas é a amígdala que daí em diante enviará uma
onda de ansiedade que nos percorre o corpo toda vez em que tentarmos
ultrapassar um carro em circunstancias semelhante. (GOLEMAN, 1995 p.17).
Nos
seres humanos as lesões bilaterais da amígdala, preservam a capacidade de
reconhecer aspectos afetivos como alegria, felicidade, tristeza e desgosto nas
expressões faciais das pessoas, mas impede o reconhecimento das expressões de
medo e de ira.
O
Sistema Límbico é responsável também pelos aspectos da identidade pessoal e por
funções ligadas à memória. Diversas pesquisas buscam mapear as regiões
cerebrais exatas onde se manifestam diferentes emoções. Frazzetto (2014, p.80) esclarece
que:
Uma
região pode desempenhar um papel em diversas emoções, e a atividade neural
relacionada a cada emoção se espalha por diversas regiões. A pesquisa está se
voltando à descoberta de redes de emoções, consistindo de regiões que atuam em
paralelo. Uma região é, digamos, especializada ou mais envolvida em uma emoção,
mas desempenha, simultaneamente, um
papel menos importante em outras emoções.
Com
o desenvolvimento de sofisticados equipamentos e o desenvolvimento de novas
tecnologias, dentro de diversas pesquisas neurais e cerebrais com habilidosos
cientistas, ao passar dos anos, esclarecerão as dúvidas sobre o funcionamento
dessa máquina tão complexa que é o encéfalo.
Durante muito tempo
acreditou-se que os fenômenos emocionais estariam na dependência de todo o
cérebro. Coube a Hess, prêmio Nobel de medicina há cerca de 50 anos, demonstrar
que esses fenômenos estão relacionados com áreas específicas do cérebro. Este cientista
implantou eletrodos em diferentes regiões do hipotálamo do gato e observou as
mais variadas manifestações de comportamento emocional, quando estas áreas eram
estimuladas eletricamente em animais livres e acordados. Sabe-se hoje que as
áreas relacionadas com os processos emocionais ocupam territórios bastante
grandes do encéfalo, destacando-se entre elas o hipotálamo, a área pré-frontal
e o sistema límbico. O interessante é que a maioria dessas áreas está
relacionada também com a motivação, em especial com os processos motivacionais primários,
ou seja, aqueles estados de necessidade ou de desejo essenciais à sobrevivência
da espécie ou do indivíduo, tais como fome, sede e sexo. Por outro lado, as
áreas encefálicas ligadas ao comportamento emocional também controlam o sistema
nervoso autônomo, o que é fácil de entender, tendo em vista a importância da participação
desse sistema na expressão das emoções. MACHADO (2005, p.272),
A
vida afetiva dos seres humanos possui dois sentimentos básicos, ambivalentes: o
amor e o ódio. “Esse dois sentimentos
estão sempre presentes em nossa vida psíquica e também estão juntos em nossas
expressões, ações e pensamentos”. BOCK (1995; p.191) O medo, a raiva, a
tristeza e a alegria são consideradas emoções primárias, são inatas e estão
ligadas à vida instintiva, à sobrevivência. Seguem descritos alguns dos
sentimentos abordados pela pesquisa como recorrentes nas crianças que chegam à
instituição com históricos de abandono, maus-tratos, violência física e verbal,
entre outras situações, de acordo com a observação e entrevista com a psicóloga
da instituição Casa de Abrigo de Menores. O medo, a raiva, a tristeza, a culpa
e a alegria.
O
Medo: é uma reação ao perigo iminente ou uma ameaça. O medo foi útil para a
evolução da espécie humana, pois através dele podem-se avaliar situações de
perigo à sobrevivência. “Ele aguça nossos
sentidos e prepara nosso corpo para enfrentar perigos repentinos. Quando
sentimos medo costuma ser de algo especifico, de um leão, por exemplo, ou de
cobras, ou de voar” (FRAZZETTO, 2014 p.89). O medo é uma reação em cadeia
no cérebro que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação
de compostos químicos que causam aumento da frequência cardíaca, aceleração na
respiração e energização dos músculos. O processo de criação do medo acontece
no cérebro e é totalmente inconsciente. A reação do medo pode ocorrer de duas
maneiras: rápido e desordenadamente ou lentamente após a interpretação mais
precisa dos eventos. Ambos os processos acontecem simultaneamente. O tálamo
decide para onde enviar os dados sensoriais recebidos dos olhos, da boca ou da
pele. O hipocampo armazena e busca memórias conscientes, além de processar
conjuntos de estímulos para estabelecer um contexto.
O
córtex sensorial interpreta os dados sensoriais. A Amigdala decodifica as
emoções, determina possíveis ameaças e armazena memórias do medo. O Hipotálamo
ativa as reações de luta e fuga, para isso são ativados dois sistemas: o
sistema nervoso simpático usa vias nervosas para iniciar reações no corpo e o
sistema adrenocortical usa a corrente sanguínea. Os efeitos combinados dos dois
sistemas são a reação de luta ou fuga.
Ocorrendo
mudanças no corpo como o aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, as
pupilas dilatam para receber a maior quantidade possível de luz, as artérias da
pele se contraem para enviar uma quantidade de sangue mais significativa aos
grupos musculares maiores (reação responsável pelo "calafrio" muitas
vezes associado com o medo - há menos sangue na pele para mantê-lo aquecido), o
nível de glicose sanguínea diminui, os músculos enrijecem, energizados por
adrenalina e glicose (reação responsável pelos arrepios - quando pequenos
músculos conectados a cada pêlo da superfície da pele tencionam, os fios são
forçados para cima, puxando a pele com eles), a musculatura lisa relaxa para
permitir que entre uma maior quantidade de oxigênio nos pulmões, os sistemas
não essenciais (como o digestivo e o imunológico) são desligados para guardar a
energia para as funções de emergência e ocorre uma enorme dificuldade para se
concentrar em outras tarefas pequenas, ou seja, o cérebro deve se concentrar unicamente
em determinar de onde vem à ameaça.
O
Sistema Nervoso Simpático usa as vias nervosas através do tronco encefálico que
possui diversas ramificações pela coluna espinhal, as quais se interligam com
todos os órgãos do corpo, recebendo e enviando mensagens para os neurônios
através das ramificações neurais ali existentes.
No tronco
encefálico estão localizados vários núcleos de nervos cranianos, viscerais ou
somáticos, além dos centros viscerais como o centro respiratório e o vasomotor.
A ativação destas estruturas por impulsos nervosos de origem telencefálica ou
diencefálica ocorre nos estados emocionais, resultando nas diversas manifestações
que acompanham a emoção, tais como o choro, as alterações fisionômicas, a sudorese,
a salivação, o aumento do ritmo cardíaco, etc. Além disto, as diversas vias descendentes
que atravessam ou se originam no tronco encefálico vão ativar os neurônios
medulares, permitindo aquelas manifestações periféricas dos fenômenos
emocionais que se fazem por nervos espinhais ou pelos sistemas simpático e
parassimpático sacral. Deste modo, o papel do tronco encefálico é
principalmente efetuador, agindo basicamente na expressão das emoções. Contudo,
existem dados que sugerem que a substância cinzenta central do mesencéfalo e a formação
reticular podem ter, também, um papel regulador de certas formas de
comportamento agressivo. Cabe lembrar também que no tronco encefálico
origina-se a maioria das fibras nervosas monoaminérgicas do sistema nervoso central,
destacando-se aquelas que constituem as vias serotoninérgicas, noradrenérgicas
e dopaminérgicas. Estas vias projetam-se para o diencéfalo e telencéfalo e,
deste modo, exercem ação moduladora sobre os neurônios e circuitos nervosos
existentes nas principais áreas encefálicas relacionadas com o comportamento emocional.
É especialmente importante à via dopaminérgica mesolímbica, que se projeta
especificamente para áreas altamente relevantes à regulação dos fenômenos
emocionais, como o sistema límbico e a área pré-frontal. Em síntese, embora os
centros encefálicos mais importantes para a regulação das emoções não estejam
no tronco encefálico, estes centros sofrem influência de neurônios nele
localizados, através das vias monoaminérgicas que aí se originam. (MACHADO,
2005 p.272)
A Raiva: Um disparador universal da raiva é
"estar em perigo". Expressar-se
através de um comportamento passageiro ou prolongado, resultando, geralmente em agressão. São sinônimos desse sentimento a ira, a cólera, o ódio e o
rancor. A glândula suprarrenal
(Anexos-Imagem 1) libera uma carga extra de adrenalina no sangue. O aumento da
concentração de adrenalina aumenta o número de batimentos cardíacos e,
simultaneamente, torna mais estreitos os vasos sanguíneos, o que aumenta a
pressão arterial. O perigo pode ser um insulto, uma humilhação, uma ameaça
física ou simbólica a autoestima ou dignidade, tratamento injusto ou
grosseiro,... Essas percepções atuam como gatilho no Sistema Límbico, que tem
um duplo efeito sobre o cérebro. É uma emoção relacionada às funções da
amígdala, em decorrência de conexões com o hipotálamo e outras estruturas.
Uma parte dessa onda é a liberação de catecolaminas,
que geram um rápido surto de energia que duram alguns minutos, durante os quais
o corpo se prepara para uma boa briga ou fuga, dependendo de como o cérebro
racional avalia a posição.
Impulsos nervosos nelas
originados são levados por fibras especiais que terminam fazendo sinapse com os
neurônios pré-ganglionares do tronco encefálico e da medula. Por este mecanismo
o sistema nervoso central influencia o funcionamento das vísceras. A existência
destas conexões entre as áreas cerebrais relacionadas com o comportamento
emocional e os neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo ajuda a
entender as alterações do funcionamento visceral, que frequentemente acompanham
os graves distúrbios emocionais. (MACHADO 2005 p.137).
Outra
via impulsionada pela amígdala percorre o ramo hipotálamo-adrenocortical, criando
um estado corpóreo de prontidão para a ação, que pode durar horas ou até mesmo
dias fazendo com que o cérebro fique em vigia e reações posteriores podem se
formar com rapidez. O indivíduo com raiva tende a ser mais detalhista sobre
diversos aspectos, utilizando ao máximo seu potencial de memória, raciocínio e
estratégia. Os processos hormonais e físicos entre o medo e a raiva são
semelhantes.
Tristeza (latim tristia): é um estado afetivo duradouro caracterizado por um
sentimento de insatisfação e acompanhado de uma desvalorização da existência e
do real. “O cair das expressões de tristeza encontra correspondência tangível
nos micromovimentos de nossas expressões faciais. Um dos primeiros sinais
perceptíveis de tristeza é o cair do canto dos lábios” (FRAZZETTO, 2014 p.120).
A tristeza é uma experiência comum e é parte do processo normal da criança e do
adulto. Na infância ao encarar e entender as emoções a criança se trona mais
independente. Toda vez que uma criança se separa de um ente querido, ela terá
que lidar com uma pequena perda. Se a mãe não pode permitir o sofrimento menor
envolvido, a criança nunca aprenderá a lidar com a tristeza por si mesma. Ao estimular excessivamente a criança para que supere uma
tristeza, desvaloriza-se a emoção para elas. O importante é respeitar o direito
da criança em experimentar uma perda completa e profundamente, onde a tristeza
não é "permitida" pode causar problemas emocionais profundos, porque
com a tristeza "desativada" torna o ser humano superficial.
No
processo de tristeza as áreas cerebrais ativadas são as de regiões límbicas,
ocorrendo ainda à desativação de áreas do córtex cerebral e a diminuição do
metabolismo da glicose no córtex pré-frontal. O tálamo desempenha um papel importante
na regulação dos estados de sono e vigília, explicando os quadros de insônia ou
sonolência nos pacientes entristecidos.
A Culpa: é o termo usado para
os sentimentos negativos que repetidamente sentidos quando se comete um erro
que se o considera grave, ou quando se deve fazer algo que gostaria de não
fazer ou de não tê-lo de fazer.
O sentimento de culpa é uma parte natural da vida e realmente desempenha uma
função adaptativa que ajuda a aprender com as experiências dolorosas ou
assustadoras. “A culpa costuma
materializar-se em sonhos, disfarçada em permutações indecifráveis e por vezes,
bizarras”. (FRAZZETTO 2014, p.51). Apesar da crença comum no contrário, a
experiência da culpa não é totalmente negativa, improdutiva e destrutiva.
Entender como lidar com o sentimento de culpa é um desafio para muitos,
aprender a retirar o que lhe serve minimizando os danos e enfrentando a vida
por outra perspectiva. Se a interpretação da culpa servir, funcionará
certamente como um elemento para o desenvolvimento pessoal. No entanto, muitos se
sentem culpados com bastante frequência levando-os para caminhos autodepreciativos
e destrutivos.
A culpa produz uma carga excessiva de estresse. De acordo com o site http://drauziovarella.com.br/drauzio/estresse-e-depressao/:
Neurocientistas
proeminentes defendem a teoria de que o mecanismo através do qual o estresse
induziria depressão estaria ligado ao hipocampo: os hormônios do estresse
suprimiriam o nascimento de novos neurônios nessa estrutura crucial para o
processamento da memória. Tal suspeita ganhou ímpeto especialmente depois da
publicação, meses atrás, de uma descoberta inesperada: depois de duas ou três
semanas de tratamento com drogas antidepressivas começam a nascerem novos espinhos
dentríticos nos neurônios no hipocampo (neurogênese). Esse achado explicaria
também por que, apesar de os antidepressivos elevarem imediatamente os níveis
cerebrais de serotonina, sua ação benéfica só se manifesta semanas mais tarde.
Para
a Psicologia, a culpa, quando chega a ser considerada um obstáculo pelo
individuo que o sente, é resultado de um inadequado crescimento pessoal, mas
não é considerada uma psicopatologia,
uma doença. Sendo assim, o sentimento de culpa pode ser apenas limitação
momentânea no processo de auto realização. Estudos buscam mapear as regiões do
cérebro onde possivelmente se processaria o sentimento de culpa.
Partes do córtex orbitofrontal e
partes do córtex pré-frontal dorsal medial de envolveram na lembrança da culpa,
porem, mais importante, não durante a lembrança da vergonha nem da tristeza.
Pelo que aprendemos dessas duas regiões do córtex pré-frontal, esses resultados
não surpreendem. Como a culpa tem a ver com as escolhas e tomada de decisões,
esperaríamos que ela atuasse nas áreas cerebrais que costumam estar envolvidas
no controle inibidor do comportamento, que é necessário quando analisamos as
consequências de atitudes erradas ou causadoras de problemas. (FRAZZETTO, 2014
p.66).
O
sentimento de culpa é único para cada indivíduo, tão particular que, analisando
o mesmo fato, os níveis de culpa de cada ser serão diferentes.
O
sentimento constante e excessivo de culpa pode se transformar em estresse; e
sob níveis de estresse intenso o corpo desencadeia inúmeras reações de mal
estar em função da produção excessiva do hormônio cortisol. De acordo com o
site: http://www.isaacbenchimol.com.br/endocrinologia/interesse-geral/129-hormonios-aiba-mais,
Esse hormônio é produzido nas
glândulas suprarrenais. O cortisol é o responsável pelo sentido de alerta, luta
ou fuga. Produzindo sintomas como taquicardia, boca seca e estômago embrulhado.
Atua nos vasos sanguíneos, mantendo a pressão arterial e o sentido de vigília;
atua no metabolismo da glicose, aumentando a resistência insulínica para
aumentar a oferta de glicose aos
músculos e ao cérebro. Facilita o aparecimento de Diabetes tipo Dois e dos
distúrbios cardiovasculares. Nas células atua diminuindo a resposta
inflamatória. No coração estimula a contração muscular e os batimentos
cardíacos.
A alegria: é um sentimento de contentamento, de
prazer de viver, satisfação, exultação, felicidade. Costuma expressar-se, nos humanos,
através de sorrisos.
A felicidade é um estado de satisfação, de
plenitude e equilíbrio físico e psíquico, em que as emoções vão
desde o contentamento até a alegria intensa, bem-estar espiritual ou paz
interior. “Diante de um centro emocional
mais positivo, o indivíduo constrói pensamentos mais criativos, otimistas e
divergentes, mas mais ficcionistas”, ALVARENGA (p.19). É difícil definir ou
medir a felicidade. Ao sentir-se bem o organismo ativa o centro de recompensa
do cérebro, onde o hipotálamo produz o hormônio ocitocina, além de outros
estímulos corporais produzindo sensação de bem-estar, como descreve Goleman (1995p.
18):
Sob tensão (ou ansiedade, ou provavelmente
até mesmo intensa excitação de alegria), um nervo que vai do cérebro às glândulas
suprarrenais acima dos rins provoca uma secreção dos hormônios epinefrina e
norepinefrina, que invadem o corpo, preparando-o para uma emergência. Esses hormônios
ativam receptores no nervo vago; embora este transmita mensagens do cérebro
para regular o coração, também transmite sinais de volta para o cérebro,
disparados pela epinefrina e norepinefrina. A amígdala é o principal ponto no
cérebro para onde vão esses sinais; eles ativam neurônios dentro dela que
enviam sinais a outras regiões cerebrais, a fim de fortalecer a memória do que
está acontecendo. Esse estímulo da amígdala parece gravar na memória a maioria
dos momentos de estímulo emocional de maior grau de intensidade - por isso é
que é mais provável, por exemplo, lembrarmos de onde tivemos um primeiro
encontro amoroso, ou o que fazíamos quando ouvimos a notícia de que o ônibus
espacial Challenger explodira. Quanto mais intenso o estímulo da amígdala, mais
forte o registro; as experiências que mais nos apavoram ou emocionam na vida
estão entre nossas lembranças indeléveis. Isto significa, na verdade, que o
cérebro tem dois sistemas de memória, um para fatos comuns e outro para os
emocionalmente carregados. GOLEMAN (1995 p. 18).
O
“sistema de recompensa” o qual gera prazer, satisfação, alegria, está
relacionado ao hipotálamo havendo conexões com o septo, a amígdala, algumas
áreas do tálamo e os gânglios da base e também está ligado ao córtex
pré-frontal integrando as habilidades cognitivas ao prazer. Cada sistema processa
de forma diferente as informações recebidas.
O
cérebro tem um centro dedicado ao prazer que é normalmente chamado de “sistema
de recompensa”. Devido ao antigo proposito evolucionário do prazer sensorial, o
sistema de recompensa é um recurso primordial e parte essencial do cérebro, e
não apenas em seres humanos – para se ter uma ideia, abelhas, ratos, cães e
elefantes têm sistemas de recompensa comparáveis. (FRAZZETTO 2014, p.192)
O
funcionamento adequado do sistema de recompensa permite a sobrevivência e a
reprodução das diversas espécies, mantendo os comportamentos essências de
alimentação e relações sexuais experiências satisfatórias. O sistema de
recompensa compreende a maneira imediata e crua das situações apresentadas, o
que é ótimo para perceber e registrar experiências de recompensa; o córtex
pré-frontal processa a informação de maneira gradual e necessita ser exercitado
para interpretar corretamente as situações apresentadas. Juntos os dois
sistemas, recompensa e pré-frontal, formam pensamentos minunciosamente
satisfatório para ambos; Que seja correto e traga recompensas.
Um
dos neurotransmissores do sistema de recompensa é a dopamina. A circulação dela
no sistema nervoso causa a sensação de euforia, hiperatividade, aumento da
disposição e da movimentação. “A dopamina
também ajuda a nos concentrar. Ela melhora nossa atenção e direciona nossa
concentração e ações.” (FROZZATTO, 2014 P. 194).
O
poder do riso ativa a produção de endorfinas e diminui o nível do cortisol. A
pressão arterial aumenta durante o riso, mas logo, cai abaixo dos níveis de
repouso pouco depois. Há uma redução da tensão neuromuscular depois de um forte
riso. O ar é expelido em grande velocidade dos nossos pulmões e do nosso corpo
quando damos uma boa gargalhada. O nosso corpo fica muito mais oxigenado,
inclusive o nosso cérebro. É orientado sorrir para a busca do prazer ou para
afastamento da dor. De acordo com o site http://www.isaacbenchimol.com.br/endocrinologia/interesse-geral/129-hormonios-saiba-mais
A
ocitocina é produzida no hipotálamo, é o hormônio da paz e do amor-felicidade.
Atua em regiões como o útero, mamas, pâncreas, testículos, cérebro. No cérebro tem
a função de ativar as regiões cerebrais relacionadas às sensações de autoconfiança, afeto e relaxamento (sensações de
felicidade). É um hormônio fortemente associado ao nosso comportamento e as
relações amorosas. A dopamina, a
adrenalina e a noradrenalina também são hormônios da felicidade e do prazer produzidos na medula da suprarrenal
e gânglios. São hormônios que participam do sistema de recompensa do
cérebro. Quando algo gera prazer, deseja-se repetir o acontecido, seja na realização sexual ou uma comida saborosa.
Esses
são alguns dos processos emocionais vivenciados pelos seres humanos diariamente,
como também, pelas crianças/adolescentes com dificuldades familiares. Ela, a
criança, dificilmente irá se expressar verbalmente sobre os seus sentimentos,
mas através do conhecimento do processo psicoemocional e aas reações
físico-corporais das emoções, os profissionais e familiares podem compreender e
conduzir a situação de maneira a beneficiar todos os envolvidos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tudo que o individuo vivencia desde
o período intrauterino influência em seu comportamento. Através da ligação pelo
cordão umbilical com a mãe, o feto recebe as descargas hormonais decorrentes
das emoções vivenciadas pela mesma, arquivando tais efeitos corpóreos em seu
sistema cerebral inicial. Com a recorrente repetição de tais eventos o cérebro
tende a memorizar a situação agradável ou desagradável, memorizando também as
tarefas que desempenhará na sequencia.
A genética vem realizando inúmeras
descobertas, explicando e comprovando através do DNA o comportamento humano,
algumas preferencias, a cadeia evolutiva do homo sapiens e desvendando uma
parte do futuro. Através do feto se realizam inúmeras possibilidades: cor dos
olhos, comportamento, tendências patológicas, entre outras.
O espaço onde ocorrem as intervenções
seja na infância ou na adolescência interfere na maneira como o indivíduo se
comportará socialmente, após internalizar uma maneira de ser e agir ele é sim
capaz de mudanças comportamentais. Até os adultos são capazes de largar velhos
hábitos, por que uma criança não? A metamorfose acontece quando o individuo
percebe que ela é necessária.
A partir do momento que procurar o
autoconhecimento o individuo passa a planejar seu futuro com perspectivas
reais, sendo o sujeito da ação, buscando o aperfeiçoamento dentro daquilo que
julga ser o certo e que o ambiente onde se encontra julga correto e incentiva.
Por isso muitas vezes se está em um ambiente agradável, porém o estimulo gerado
nesse não é o agradável; exemplo disso são pais e profissionais que
desestimulam os indivíduos ao seu redor, minimizando a autoestima dos mesmos.
Várias teorias de psicologia sobre o
comportamento vêm sendo alicerçadas com os estudos neurológicos realizados.
Através do conhecimento fisiológico das reações emocionais, da genética
“rabiscando” o funcionamento do comportamento e alguns conhecimentos
psicológicos acompanhando os indivíduos, há de se ter o cuidado de num futuro
distante todos necessitarem possuir os mesmos sentimentos.
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ANEXOS
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GLANDULA SUPRARRENAL:
Glândula suprarrenal
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Glândula
suprarrenal
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SISTEMA LÍMBICO
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4
Sistema
Límbico.
O
Homem deve saber que é no cérebro, e somente do cérebro,
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