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MAUS TRATOS NA INFÂNCIA E O SISTEMA LÍMBICO - artigo cientifico

MAUS TRATOS NA INFÂNCIA E O SISTEMA LÍMBICO                                               Carla Helena Gräff ¹                       ...

sábado, 23 de janeiro de 2016

MAUS TRATOS NA INFÂNCIA E O SISTEMA LÍMBICO - artigo cientifico

MAUS TRATOS NA INFÂNCIA E
O SISTEMA LÍMBICO
                                              Carla Helena Gräff ¹
                                                  Clarice Luiz Sant’Anna²

RESUMO
A criança/adolescente absorve os estímulos do meio onde vive, sejam eles positivos ou negativos. Maus tratos geram cicatrizes externas, mas principalmente, produzem cicatrizes internas profundas, dolorosas. Com a desvinculação familiar acontece a adaptação às instituições de Abrigo de Menores. Esses indivíduos enfrentam diversos obstáculos emocionais. Cada caso é especifico, porém há processos emocionais recorrentes, como a culpa, a raiva, a tristeza, a compreensão, a redescoberta de si, a conquista da autoestima, a alegria. Não necessariamente nessa ordem, nem somente esses sentimentos. Após um apanhado histórico da situação investigada, há um breve relato das emoções e suas reações.

Palavras – Chave: Abrigo de Menores.  Criança/Adolescente.  Família.  Emoções.

1 INTRODUÇÃO
O seguinte artigo trata das diversas realidades vivenciadas nas instituições de abrigo infantil, a ênfase do trabalho está na questão de como a criança/adolescente lida emocionalmente com a situação de maus tratos e em como ela compreende e avalia a sua situação em diferentes momentos e em diversas perspectivas. Tomado para exemplo e estudo de caso um determinado local, uma instituição de abrigo infantil no Vale do Taquari, levando-se em consideração que nesse espaço socializam-se distintas realidades. São diversas as situações que levam a criança à casa de Abrigo, indiferente do local onde atue a instituição as situações são semelhantes.
Pretende-se através deste artigo a compreensão do ciclo emocional regente na maioria dos casos avaliados onde a criança/adolescente desenvolve a capacidade de se entender intimamente e compreender sua situação familiar como impropria, concluindo que a instituição onde está é um lar, e neste ela se encontra protegida das ameaças externas.
A pesquisa teve diversas abordagens, para as quais houve um procedimento diferenciado em cada etapa. Para abordagem do cotidiano da instituição, durante um largo período, realizou-se um acompanhamento com as crianças/adolescentes do local. Para o entendimento do processo socioemocional, adaptação e processo de identidade realizou-se uma entrevista com a psicóloga e a pedagoga responsável pela instituição. Para a associação das informações ao processo emocional cerebral realizou-se uma pesquisa psicológica e neurofisiológica teórica.
A contribuição desse tema para o contexto educacional e social é de suma importância, pois o contexto familiar é uma realidade a se levar em consideração quando se busca compreender o aluno/paciente que esta sobre responsabilidade do professor/neuropsicopedagogo. Com a compreensão do processo emocional e as diversas manifestações dessas, a intervenção profissional será eficiente.
As informações que esse indivíduo absorve constantemente, a carga emocional com que lida em seus dias são obstáculos para a aprendizagem e o convívio social, pois, geralmente, a criança/adolescente representa as experiências de seu cotidiano através de ações agressivas, palavras ofensivas ou retrai-se, pois não se vê confortável em conversar sobre o assunto.
A criação e as experiências traumáticas têm efeitos fortes no desenvolvimento da personalidade. O ambiente interfere na ação de alguns genes e compromete o resultado de desenvolvimento de uma pessoa. O comportamento não pode ser estudado sem a percepção das circunstâncias do mundo externo onde ele se manifesta e contribui para a sua emergência. (FRAZZETTO p. 35).
A compreensão do processo emocional, fisiológico e socioafetivo dos indivíduos que possuem traumas familiares, tendo ou não se afastado de suas famílias, possuem características em comum. O olhar diferenciado para com essas situações, o compreensão dos ciclos e a observação continua podem direcionar positivamente uma determinada situação.

1         GRUPO FAMILIAR

            O grupo familiar tem como função primordial educar a criança para que ela desenvolva sua moral e valores de acordo com a cultura que vivenciam nesta sociedade, devendo também preparar a criança para futuramente ser um indivíduo que atuará em prol dessa sociedade, vindo a realizar atividades produtivas já existentes ou inová-las.
Na família se encontram os diferentes papéis que a criança absorverá e representará. A menina reproduzirá o que aprende e observa da mãe, o menino representará o que observa no pai. Por tanto esses adultos são responsáveis pela modelo de conduta, pela representação dos papéis sociais, masculino e feminino, das normas e valores que a criança adquirir. Esse processo de memorização de condutas, valores, culturas, palavras entre outros fatos vivenciados, dão origem aos diferentes tipos de memória do ser humano.  Antunes (2012, p.15) explica o processo de memorização:
Ao recebermos uma informação de nossos sentidos – uma palavra, um som, um cheiro etc. – ocorre à primeira etapa do processo de memorização que é a assimilação e através desta operação essa informação é enviada, simultaneamente, para a memória de curto prazo e a memoria de longo prazo. Nesse exato momento, quem passa a trabalhar freneticamente é o hipocampo, localizado entre as orelhas, bem no fundo da cabeça. O hipocampo é quem, depois de trabalhar os dados, usa e joga fora informações de curto prazo e se encarrega de enviar outras para diferentes partes do córtex cerebral. Essas informações, aí chegando, se envolvem em uma verdadeira “sopa química” que passa a provocar “conversas” entre os neurônios. Nessa fase, o hipocampo descansa e quem passa a trabalhar é o lobo frontal. Essa parte do cérebro é assim como um “coordenador geral” das diversas memórias e responsável pela guarda das informações, depois de classificá-las segundo seus diferentes tipos. Nessa área cerebral as diferentes memórias se completam dando origem ao raciocínio. (ANTUNES¹, 2012 - 15).
Dentro desse contexto social encontramos famílias liberais e famílias conservadoras, nas quais os indivíduos pertencentes a tais grupos aprenderão de formas diferentes a expressão de suas emoções, suas crenças, os tabus e as limitações culturais de tal grupo.
Ao controlar as emoções facilitam-se determinados scripts culturais, que são, dentro dessa cultura, a resposta adequada frente às diferentes situações existenciais, existindo assim um modo de agir pré-determinado.
A teoria da afetividade pressupõe que as emoções são comportamentos apreendidos no processo de socialização. “As emoções consistem essencialmente a certo tipo de situação. Atitudes e situações correspondentes se implicam mutuamente, constituindo uma maneira global de reagir e que é de tipo arcaico e frequente na criança.” ALFANDÉRY (2010, p. 70).  Cada cultura possui uma forma de socialização e tem formas variadas de exprimir as diferentes emoções, ou seja, as emoções são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso, dependem da cultura em que o indivíduo está inserido. Considerando as culturas onde ocorre a repressão de sentimentos como o ódio, raiva, inveja, entre outros, considerados inadequados socialmente, torna-se o processo de aprendizagem emocional totalmente afetivo, enviando ao inconsciente, registros de que esses sentimentos são proibidos de representação; o inconsciente grava essa mensagem e toda vez que tal sentimento é demostrado por essa pessoa ou por outra, a mensagem é acessada e o individuo se conscientiza que sente algo errado.
A socialização seria esse processo de apropriação do mundo social. “Com suas normas, valores, modos de representar os objetos e situações que compõem a realidade objetiva; é o processo de constituição de uma realidade subjetiva, que se forma a partir das primeiras relações do individuo com o meio social” (BOCK, 1995, p.209). A família tem como função ser a socializadora dos seus filhos. Na atualidade são inúmeras as “receitas para se educar os filhos”. A maioria das famílias deseja um futuro digno e maravilhoso para seus filhos. Buscam informação, são atenciosos, procuram referencias de boas escolas como forma de obterem boa educação, porém esse empenho nem sempre é garantia de resultado positivo. São diversas as realidades das famílias, como diversos os objetivos e metas que buscam ou impõem para seus filhos, como também a diversidade no empenho ao cuidado e a educação dos mesmos. “Algumas vezes os pais sentem-se cansados, desgastados e inseguros. Por isso adotam posturas comodistas frente aos filhos” (ZAGURY 1995, p.140).
Há casos de famílias sem estruturas financeiras, mas esse não se torna um motivo para a interferência social nestas, podendo elas usufruir de programas sociais. Mas, há situações de famílias sem estrutura moral e social para garantir o desenvolvimento saudável dos menores e nesses casos sim, é necessária a interferência de órgão públicos protetores dos direitos infantis. O sistema municipal de Assistência Social é acionado em diversos casos. Há distintas realidades. Enquanto umas necessitam de amparo e acompanhamento, há outros que, após diversas tentativas de reestruturação familiar sem sucesso e casos extremos onde a criança corre risco de vida, opta-se em conduzir os menores à instituição de Abrigo de Menores. Em muitos desses casos os pais são despreparados e imaturos para impor disciplina a uma criança ou acabam sendo eles o motivo de perigo para essa criança. “Estabelecem uma relação interpessoal, marcada por formas abusivas de controle e de poder de um sobre os outros, em que a comunicação e o afeto são substituídos pela imposição física” (KOLLER, 2011, P.316). Quanto mais à criança reivindicar, reagir ou até se expressar exigindo resposta, mais os adultos usarão da força, no livro Limite na medida certa, o autor coloca o conflito entre pais e filhos exemplificando um caso da seguinte maneira:
E Então a mãe toma uma atitude, o filho reage, ela passa por cima dessa reação e lhe dá uma bronca ou castigo porque deseja manter a sua decisão. Está configurado o abuso de poder da mãe, que é maior em tamanho e em capacidade de argumentação. Resta acriança engolir suas reações para não desencadear a irritação da mãe (TIBA2013, p.50).
São inúmeras as situações de risco que levam a criança a casa, tais como abandono de incapaz, abuso sexual, falta de responsável legal, evasão escolar, vida desregrada/comportamento irregular do (da) infante/adolescente, uso de drogas e/ou prostituição (configurada ou suspeita), falta de cuidados pelos pais ou responsáveis, desentendimentos familiares, entre outras. A criança/adolescente é retirada do lar prejudicial ao seu desenvolvimento sadio e acolhida nesta instituição.
O desrespeito e a crueldade para com a criança, menor de idade, não é exclusividade em nosso país, nem da atualidade.
Ao longo da história as crianças já foram usadas como mão de obra barata durante a Revolução Industrial; na época das grandes navegações; já foram sacrificadas em nome de deuses e deusas; foram feitas prostitutas; foram sacrificadas por nascerem com problemas físicos; foram sacrificadas em seitas religiosas (VASCONCELOS 2010, p. 187).
Por diversas atrocidades praticadas contra a criança a ONU publicou em 20 de novembro de 1959, a Declaração dos Direitos da Criança, a qual serviu de base para os governos modificarem a forma de legislar esse tema. Anos mais tarde o Governo Brasileiro sanciona a Lei Nº 8069, no dia 13 de julho de 1990. Com base no ECA-Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual rege os direitos da criança e do adolescente constam a seguir artigos sobre o tema abordado no artigo:
 Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-los ou protegê-los. 
Parágrafo único.  Para os fins desta Lei, considera-se: 
I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o adolescente que resulte em: 
 a) sofrimento físico; ou 
b) lesão; 
II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente que:
a) humilhe; ou 
b) ameace gravemente; ou 
c) ridicularize. 
Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os responsáveis, os agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina, educação ou qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão aplicadas de acordo com a gravidade do caso: 
I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de proteção à família; 
II - encaminhamento a tratamento psicológico ou psiquiátrico
III - encaminhamento a cursos ou programas de orientação
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento especializado; 
V - advertência
Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
 § 1o  Toda criança ou adolescente que estiver inserido em programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, devendo a autoridade judiciária competente, com base em relatório elaborado por equipe interprofissional ou multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
§ 2o  A permanência da criança e do adolescente em programa de acolhimento institucional não se prolongará por mais de 2 (dois) anos, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu superior interesse, devidamente fundamentada pela autoridade judiciária.
 § 3o  A manutenção ou reintegração de criança ou adolescente à sua família terá preferência em relação a qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em programas de orientação e auxílio, nos termos do parágrafo único do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
 Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22. 
Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.
Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e difundir formas não violentas de educação de crianças e de adolescentes. (...). 
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
 I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
 II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
VII - acolhimento institucional
§ 1o  O acolhimento institucional e o acolhimento familiar são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo esta possível, para colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.
§ 2o  Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da criança ou adolescente do convívio familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum.
Parágrafo único.  Da medida cautelar constará, ainda, a fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança ou o adolescente dependente do agressor.
São importantíssimos os esforços políticos das organizações e de agentes sociais propondo maneiras diversas de proteção às crianças, especialmente nos países em desenvolvimento. As iniciativas para com a justiça social são fundamentais, pois permitem que os avanços tecnológicos, o mercado globalizado e o progresso não discriminem os direitos e os valores infantis, ou seja, de uma parcela da população que não é responsável por si, mas sim dependente dos adultos.
A legislação prima por proteger a criança/adolescente, mas as leis nem sempre são cumpridas. É dever de a família cumprir a legislação que a cabe, porém a sociedade também deve fazer valer os direitos infantis propondo para essa proteção, amparo e respeito. A família é a primeira opção como lar, porém quando essa não cumpre o seu papel social, deixa de ser a melhor opção para o menor.

2. ADAPTAÇÃO, PROCESSOS NEUROPSICOLÓGICOS E A REINVENÇÃO DO TERMO LAR.
A pesquisa iniciou através de uma visita e a interação com o grupo da instituição, seguindo da formulação de um questionário de entrevista com a diretora e com a psicóloga. Na fala da diretora pedagoga Carmem Salete Fridrish ela coloca a situação que ocorre na maioria dos casos, onde a criança/adolescente encara a chegada ao abrigo como um castigo, a visão negativa do fato é comum, pois a criança tende a se punir pelo ocorrido. “Essa mesma criança pode perceber a entrada na instituição como uma forma de exclusão que, somado aos fracassos experienciados, contribuem para diminuir a sua autoestima” (KOLLER,2011, p.118). Ao ingressar em um novo lar, é necessário um período de adaptação. Tem-se então o período de psicoadaptação (capacidade de suportar a dor, transcender obstáculos, administrar conflitos, contornar entraves, adaptar-se as mudanças psicossociais, CURY, 2015, p.118); o qual gera o fenômeno de resiliência. “O grau de resiliência depende, portanto, do grau de adaptabilidade e da capacidade de superação de um ser humano aos eventos que encontra em seu traçado existencial, em sua jornada de vida” (CURY, 2015, p.118). Esse processo varia de criança para criança. Através do convívio percebem que as pessoas que trabalham ali a compreendem, respeitam-na e se importam com ela; criando laços afetivos de igual valor a uma família. Percebem também que nessa casa há determinadas regras que ela deve seguir e limites que não podem ser ultrapassados, que o respeito existe e deve der mantido em quaisquer situações.
A institucionalização não é defendida por todos, para alguns pesquisadores ela possui pontos negativos. O que preocupa vários pesquisadores é a não interação e participação dos indivíduos para com um ambiente variado e distinto, reforçando a estigmatização e os preconceitos contra esses indivíduos.
A vivencia institucional pode apresentar tantos ou mais fatores de risco quanto à rua para a criança, pois o ambiente institucional e as relações estabelecidas nesse meio influenciarão seu desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, bem como a construção de suas identidades e seus projetos futuros (KOLLER, 2011 p.203).
Nas palavras da Diretora e Coordenadora Pedagógica: “Esta casa não é vista como um depósito de crianças”; possui e trabalham com a crença de que a criança/adolescente pode reescrever a sua história, tendo um futuro diferente daquele que o trouxe para a casa. As etapas de adaptação vencidas pelos indivíduos e os resultados positivos obtidos das mais diversas formas são comemorados com recompensas positivas, e na maioria dos casos, as recompensas são elogios, aumentando a autoestima destes, incentivando o conhecimento e a troca de valores entre todos da casa.
A educação para a autoestima deve distanciar-se de palavras como “erro” e “culpa” e pela descoberta de que aprender a viver é como descobrir um caminho. Contando com ajuda criarão quadros de si mesmas como indivíduos valorosos e bem-sucedidos, com uma boa autocompreensão e um bom autocontrole. (ANTUNES² 2014, p.22).
Após o período de 4 a 5 meses, as crianças e adolescentes fazem uma auto avaliação de sua estadia na instituição abrangendo os mais diversos pontos; comportamento, conflitos, relacionamento, escola, amigos, sentimentos. As soluções também partem desses indivíduos; dentro da sua realidade, cada um procurará a melhor solução para a sua situação.
Quanto mais a criança compreende sobre seus próprios conceitos, mais facilmente identificará a necessidade de mudança nos mesmos; quanto mais compreender o conceito dos outros, mais facilmente estabelecerá relações de convívio. Assim, pois, o “eu” é simplesmente um conceito apreendido como outro qualquer e sujeito às possibilidades e mudanças em direções positivas. ANTUNES² (2014, p.23).
O progresso muitas vezes é lento, dada as suas experiências e autoestima.
É muito difícil uma criança expor suas vivencias traumáticas, mas há momentos em que o desabafo acontece; frequentemente as crianças/adolescentes não se expõem aos funcionários da instituição preferindo ficarem nesses momentos solitárias. Além de ser um momento de choro, de angústias, também é um momento de reflexão, de pensar. “Toda criança também quer ser escutada” (ALVES, 2005, p.29), por esse motivo as monitoras, assim como a diretora e a psicóloga, demonstram-se prontas para ouvir e orientar. O modo como esse indivíduo se relacionar com seu “eu” interior, as emoções como raiva, medo, empatia, culpa, vergonha e autoestima as que sobressaírem serão os motivadores do seu comportamento moral.
Há, além do fator ambiental, o fator genético como defende o escritor Frazzetto (2014, p.35) afirmando que:
A origem dos traços comportamentais é mais complexa. A maioria dos traços é “poligênica”, ou seja, envolve uma mistura de muitos genes ao mesmo tempo. O da MAO-A é, até hoje, certamente o mais estudado e mais ligado à agressão. O que complica é que o gene pode ser responsável por mais de um comportamento. [...] (2014, p.38) Um ingrediente essencial (...) na receita da violência: uma infância ruim [...] É a presença do gene em combinação com um ambiente hostil que aumenta a possibilidade do desenvolvimento do comportamento antissocial.
Conclui-se então que o ser humano deve ter uma pré-disposição genética para o comportamento agressivo acrescentado de um ambiente hostil que favoreça esse desenvolvimento antissocial. Isso explicaria os casos de crianças que vivenciam situações extremamente brutais e não se tornam adultos brutais, mas ao contrário, solidários, bondosos e humildes.
Nas palavras da psicóloga da instituição Rosilene Lima, especialista em avaliação neuropsilógica, pode se confirmar o que a diretora já havia exposto. Como as crianças/adolescentes que são encaminhadas para a instituição vivem em ambientes de conflitos com agressões, a tendência é que reproduzam as mesmas ações, as quais já aprenderam e dominam a técnica. Para elas o período de adaptação é relativo, algumas crianças se adaptam a casa em dias ao passo que outras necessitam de semanas ou meses. O modo como o indivíduo enfrenta a sua realidade, com autoestima elevada ou baixa é um dos determinantes.
O processo de adaptação durante os primeiros dias é difícil; há a mudança de ambiente e a mudança de regras, o sofrimento pela perda, pelo distanciamento, a indiferença à situação, a culpa e a revolta.
A avaliação dos estímulos presentes no novo ambiente acontece rapidamente no sistema nervoso, as emoções são ativadas em milésimos de segundos ativando órgãos correspondentes a determinadas emoções; e para harmonizar-se novamente o corpo leva algum tempo. Nesse caso o sistema nervoso límbico é o responsável pelas emoções. Nele acontece a interpretação de que emoção sentiu-se e a transmissão da mensagem ao sistema nervoso simpático o qual direcionará os estímulos aos órgãos correspondentes, isso tudo muito antes do córtex frontal tomar consciência do sentimento, o que ocorre milésimos de segundo depois, quando o processo límbico já está todo realizado. Ao acionar o sistema Simpático, este reproduz fisicamente os efeitos das emoções, sendo capaz de frear o sistema autônomo, órgãos e sistemas, percorrer sensações de calafrios ou de extremo calor por praticamente todo corpo, quando emoções muito intensas. A situação de medo e de estresse, por exemplo, descarrega uma grande quantidade de adrenalina no sistema circulatório, aumentando a frequência respiratória e os batimentos cardíacos, o corpo permanece em sentido de vigília, de alerta. Nesta situação o sistema nervoso periférico simpático prepara o organismo para reagir em caso de medo, excitação e estresse, adequando o funcionamento de diversos sistemas internos para o estado de prontidão. Após transmitir pelo corpo os estímulos, entra em ação o sistema nervoso parassimpático que desestimula, freia as áreas estimuladas, fazendo com que determinadas sensações corpóreas diminuam até o corpo se normalizar, dependendo da intensidade da emoção esses efeitos podem durar minutos ou até dias.
A psicóloga usa de várias técnicas para o acompanhamento das crianças/adolescentes da casa. O primeiro passo é o fortalecimento e elevação da autoestima, quando esse indivíduo passa a encarar os fatos com outro olhar, eleva seu bem estar, fortalecendo, posteriormente, vínculos e valores com pessoas diferentes, que lhe transmitem o sentimento de segurança. Na instituição, através de todos os funcionários, a tentativa constante é de repassar valores positivos ao indivíduo, transmitir o máximo de afeto possível e o respeito recíproco.
O indivíduo que chega à instituição traz consigo muitos conflitos internos. Diversos sentimentos misturam-se. Destaca-se, na maioria das vezes a culpa. Sente-se como o causador da situação vivida e vê, como forma de punição, estar no Abrigo de Menores. Com o acompanhamento psicológico, a compreensão dos fatos muda, faze-lo perceber-se vítima dos fatos e a partir daí, focá-lo em direção ao futuro. O que ele é capaz de realizar, quais são seus interesses. A criança que foi vítima não é influenciada a agir como tal, mas sim em buscar seus valores, suas crenças e a partir disso continuar a sua história sendo o sujeito ativo, o qual decide os rumos que vai seguir. ”A verdade, por sua vez, não deve jamais ser negada ou omitida” ANTUNES² (2014, p.37). Os fatos que vivenciou fazem parte das suas memórias, porém, com o olhar direcionado para outros focos de atenção, a lembrança desses passa a ter significados diferentes.
Analisando-se as informações conclui-se que através das medidas educacionais usadas a criança/adolescente é incentivada a desenvolver a sua inteligência interpessoal - sua localização cerebral fica nos lobos frontais-  que é a capacidade de compreender as outras pessoas, compreender e analisar o que as motiva, como elas trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas. Em outras palavras, paciência, persistência, objetividade, coerência e competência aplicados à educação resultavam em sucesso significativo na mudança comportamental.” (ANTUNES¹, 2012 p.18). As crianças são incentivadas, principalmente, a desenvolver a inteligência intrapessoal - sua localização cerebral fica nos lobos frontais -  que é uma capacidade correlativa voltada para dentro de si mesmo. É a capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. “Os traços de personalidade são relativamente duradouros e podem estar ligados a fatores de temperamento, mas os estados de personalidade são flutuantes e relacionam-se á disposição e à forma como as pessoas são tratadas e como se sentem em relação a si mesmas e em relações interpessoais” (ANTUNES², 2014 p.18).
Quando o indivíduo é portador de necessidades especiais à instituição agrega outros profissionais ao acompanhamento dele, havendo diversas parcerias com outras instituições como APAE, fisioterapeuta e prestação de serviços como o SUS e o atendimento no PSF, entre outras se necessário.
Quando a necessidade desse indivíduo não é visível o desenvolvimento psicológico e social torna-se complexo. Há maiores dificuldades afetivas, de convivência e de relacionamento, tornando o acompanhamento psicológico e neurológico de suma importância; além das dificuldades neurofisiológicas precisam lidar com o bulling social. Nesse caso há também o acompanhamento de profissionais como psiquiatra e neurologista, pois os instrumentos psicológicos não funcionam corretamente.

3.DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL NOS TRÊS PRIMEIROS ANOS DE VIDA
Em nenhuma outra fase a diferenciação de funções cerebrais será tão intensa quanto na infância. Toda a organização de tecidos cerebrais, biológica e material, será fortemente influenciada, dirigida, regulada e nutrida na relação que o bebê estabelece com os outros seres humanos e com a sociedade onde crescer. O desenvolvimento cerebral e biofísico se completa em sociedade, na cultura e na história onde esse indivíduo se inserir. O crescimento e amadurecimento do cérebro humano são lento e gradual, pesquisas têm demonstrado de forma consistente que os três primeiros anos de vida são críticos para o desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. Durante este período ocorrem 75% do crescimento do cérebro.
Embora o desenvolvimento fisiológico dos bebês apresente os mesmos padrões, cada bebê já no início da vida, apresenta diferentes características quanto a sua personalidade, o que torna cada pessoa única. As características individuais de cada um, associadas às vivencias sociais resultarão nas mais variadas formas de socialização, de acordo com a autora Papalia (2010, p. 193) “da primeira infância em diante, o desenvolvimento da personalidade se entrelaça com as relações sociais, essa combinação é o desenvolvimento social”.
O desenvolvimento emocional apresenta uma ordem: geralmente emoções complexas se dividem em emoções mais simples. As emoções tem início na primeira infância, no entanto essas reações podem mudar com o passar dos anos e também com a cultura a que esse indivíduo fará parte. A cultura tem grande impacto na maneira como o individuo representará as suas emoções e qual a visão que terá de determinada situação.
A identificação das emoções nos bebês é difícil, pois não há comunicação, o observador as avalia através de expressões faciais, porém, não são precisas. As emoções participam em todas as fases do desenvolvimento humano.  PAPALIA diz que:
As emoções estão intimamente ligadas a outros aspectos do desenvolvimento. Um recém-nascido, por exemplo, que é negligenciado emocionalmente - ninguém o abraça, acaricia ou fala com ele – poderá apresentar insuficiência de crescimento não-orgânico, isto é, incapacidade de crescer e ganhar peso, apesar de adequadamente nutrido. O bebe geralmente melhora quando é transferido a um hospital e recebe apoio emocional. (PAPALIA, 2010, p.194).
No principio, a criança depende totalmente da atenção que recebe dos pais, da interpretação dos mesmos para ter suas necessidades atendidas.
O auge da maternidade acontece nesta hora: amamentar a criança e iniciar com ela uma relação muito íntima. Nessa interação a mãe transmite para a criança o modo de ser da família (como somos), isso é essencial para ajudar o filho a formar seu ser psicológico, pois a criança traz ao nascer apenas seu ser biológico (cromossomos). O pai deve ter muita saúde psicológica para participar do gesto de alimentação, que tem um imenso significado afetivo. Afinal, a criança não precisa só de leite. (TIBA, p.38-39)
Todas as experiências infantis acabam por estimular e repercutir por toda a organização neural. Crianças que sofreram abuso físico muitas vezes manifestam ao mesmo tempo retraimento, agressividade e atribuem hostilidade aos outros. Crianças vítimas de maus-tratos apresentam frequentemente padrões incomuns de desenvolvimento emocional, apresentando desempenho deficiente em tarefas que avaliam reconhecimento e expressão de emoções. Sentimentos e emoções influenciam o comportamento humano.

4. O SISTEMA LÍMBICO E AS EMOÇÕES
As emoções são uma consequência de imaginação e inúmeros pensamentos simultâneos, que ocorrem no sistema cerebral reagindo fisiologicamente aos acontecimentos ambientais do cotidiano. Elas colaboram no controle das relações sociais, indicando aos demais a própria intenção através da postura e das ações. A emoção é uma experiência subjetiva que envolve a mente e o corpo da pessoa. É uma reação complexa desencadeada por um estímulo ou pensamento e envolve reações orgânicas e sensações pessoais. “As emoções determinam nossa qualidade de vida. Elas acontecem em todos os relacionamentos que nos interessam: no trabalho, em nossas amizades, nas interações familiares e nos relacionamentos íntimos”. (EKMAN 2011, p.13).
 As emoções são a forma que a natureza encontrou para propiciar aos organismos comportamentos rápidos e eficazes orientando para a sua sobrevivência. Emoções e sentimentos são meios naturais de avaliar o ambiente que se rodeia e de reagir de forma adaptativa, fazendo com que o ser humano busque algo satisfatório ou então que evite a insatisfação. As emoções influenciam a saúde não apenas em decorrência da psico-neuro-fisiologia, mas por possuírem caráter motivacional, auxiliando os humanos a buscarem condutas saudáveis como exercícios, dietas, lazer e companheirismo.
 O Sistema Nervoso é formado por diversos sistemas. O Sistema Límbico (Anexos-Imagem 3) é responsável primordialmente por controlar as emoções e secundariamente participa das funções de aprendizado e memória, podendo também participar do sistema endócrino, é o responsável pelo recebimento dos estímulos e pelo acionamento dos mecanismos físicos.
 Como tantos dos centros superiores se desenvolveram a partir do âmbito da região límbica ou a ampliaram, o cérebro emocional desempenha uma função decisiva na arquitetura neural. Como raiz da qual surgiu o cérebro mais novo, as áreas emocionais entrelaçam-se, através de milhares de circuitos de ligação, com todas as partes do neocórtex. Isso dá aos centros emocionais imensos poderes de influenciar o funcionamento do resto do cérebro - incluindo seus centros de pensamento (GOLEMAN, 1995 p.13).
O Sistema Nervoso juntamente com as glândulas do sistema Endócrino tem relevante papel nas manifestações comportamentais das pessoas. “Os limites geográficos do cérebro, no que tange à realização de tarefas racionais e à emoção, se misturam. A parte pré-frontal do cérebro tem controle da racionalidade, mas também contribui para emoção” (FRAZZETTO, 2014 p.26). Ativado o sistema nervoso por uma emoção, por exemplo, a glândula suprarrenal (Imagem 1) produz hormônios em resposta ao estresse, e este é derramado na corrente sanguínea, acelerando a sua circulação, provocando a aceleração das batidas cardíacas.
               As diversas estruturas localizadas na base medial do cérebro coordenam o comportamento emocional e os impulsos motivacionais. “À medida que evoluía, o sistema límbico foi aperfeiçoando duas poderosas ferramentas: a memória e a aprendizagem”. (GOLEMAN, 1995 p.12). O sistema límbico tem formato de um anel cortical e é um conjunto de estruturas do cérebro. Fazem parte dessa estrutura o Tálamo, Hipotálamo, Corpos mamilares, Hipocampo, Amigdalas e Giro Cingulado. Localiza-se na parte medial do cérebro, nos mamíferos.
O sistema límbico, quando recebe um estímulo sensitivo (audição, paladar, visão, tato), envia essas informações para o tálamo e  o hipotálamo que elabora respostas aos estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso autônomo. É responsável por diversas funções importantes como: regulagem do sono, pela libido, controla o apetite e também controla a temperatura corporal; quando a temperatura aumenta o hipotálamo age na dilatação dos capilares para o resfriamento sanguíneo.
A pesquisa de Le Doux e outros neurocientistas parece agora sugerir que o hipocampo, há muito considerado a estrutura-chave do sistema límbico, está mais envolvido com o registro e a atribuição de sentido aos padrões perceptivos do que com reações emocionais. A principal contribuição do hipocampo está em fornecer uma precisa memória de contexto, vital para o significado emocional; é o hipocampo que reconhece o significado de, digamos, um urso no zoológico ou em nosso quintal. (GOLEMAN 1995 p.17).
                O tálamo é responsável por quatro sentidos: tato, paladar, visão e audição e também é responsável pelas sensações de dor, quente ou frio e a pressão do ambiente, identificando quando há perigo, medo e ansiedade.
As amígdalas (Anexos- Imagem 2) são responsáveis por memórias emocionais.
Enquanto o hipocampo lembra os fatos puros, a amígdala retém o sabor emocional que os acompanha. Se tentamos ultrapassar um carro numa estrada de mão dupla e por pouco escapamos de uma batida de frente, o hipocampo retém os detalhes específicos do incidente, como em que faixa da estrada estávamos, quem estava conosco, como era o outro carro. Mas é a amígdala que daí em diante enviará uma onda de ansiedade que nos percorre o corpo toda vez em que tentarmos ultrapassar um carro em circunstancias semelhante. (GOLEMAN, 1995 p.17).
Nos seres humanos as lesões bilaterais da amígdala, preservam a capacidade de reconhecer aspectos afetivos como alegria, felicidade, tristeza e desgosto nas expressões faciais das pessoas, mas impede o reconhecimento das expressões de medo e de ira.
O Sistema Límbico é responsável também pelos aspectos da identidade pessoal e por funções ligadas à memória. Diversas pesquisas buscam mapear as regiões cerebrais exatas onde se manifestam diferentes emoções. Frazzetto (2014, p.80) esclarece que:
Uma região pode desempenhar um papel em diversas emoções, e a atividade neural relacionada a cada emoção se espalha por diversas regiões. A pesquisa está se voltando à descoberta de redes de emoções, consistindo de regiões que atuam em paralelo. Uma região é, digamos, especializada ou mais envolvida em uma emoção, mas desempenha, simultaneamente, um papel menos importante em outras emoções.
Com o desenvolvimento de sofisticados equipamentos e o desenvolvimento de novas tecnologias, dentro de diversas pesquisas neurais e cerebrais com habilidosos cientistas, ao passar dos anos, esclarecerão as dúvidas sobre o funcionamento dessa máquina tão complexa que é o encéfalo.
Durante muito tempo acreditou-se que os fenômenos emocionais estariam na dependência de todo o cérebro. Coube a Hess, prêmio Nobel de medicina há cerca de 50 anos, demonstrar que esses fenômenos estão relacionados com áreas específicas do cérebro. Este cientista implantou eletrodos em diferentes regiões do hipotálamo do gato e observou as mais variadas manifestações de comportamento emocional, quando estas áreas eram estimuladas eletricamente em animais livres e acordados. Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com os processos emocionais ocupam territórios bastante grandes do encéfalo, destacando-se entre elas o hipotálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico. O interessante é que a maioria dessas áreas está relacionada também com a motivação, em especial com os processos motivacionais primários, ou seja, aqueles estados de necessidade ou de desejo essenciais à sobrevivência da espécie ou do indivíduo, tais como fome, sede e sexo. Por outro lado, as áreas encefálicas ligadas ao comportamento emocional também controlam o sistema nervoso autônomo, o que é fácil de entender, tendo em vista a importância da participação desse sistema na expressão das emoções. MACHADO (2005, p.272),

A vida afetiva dos seres humanos possui dois sentimentos básicos, ambivalentes: o amor e o ódio. “Esse dois sentimentos estão sempre presentes em nossa vida psíquica e também estão juntos em nossas expressões, ações e pensamentos”. BOCK (1995; p.191) O medo, a raiva, a tristeza e a alegria são consideradas emoções primárias, são inatas e estão ligadas à vida instintiva, à sobrevivência. Seguem descritos alguns dos sentimentos abordados pela pesquisa como recorrentes nas crianças que chegam à instituição com históricos de abandono, maus-tratos, violência física e verbal, entre outras situações, de acordo com a observação e entrevista com a psicóloga da instituição Casa de Abrigo de Menores. O medo, a raiva, a tristeza, a culpa e a alegria.
O Medo: é uma reação ao perigo iminente ou uma ameaça. O medo foi útil para a evolução da espécie humana, pois através dele podem-se avaliar situações de perigo à sobrevivência. “Ele aguça nossos sentidos e prepara nosso corpo para enfrentar perigos repentinos. Quando sentimos medo costuma ser de algo especifico, de um leão, por exemplo, ou de cobras, ou de voar” (FRAZZETTO, 2014 p.89). O medo é uma reação em cadeia no cérebro que tem início com um estímulo de estresse e termina com a liberação de compostos químicos que causam aumento da frequência cardíaca, aceleração na respiração e energização dos músculos. O processo de criação do medo acontece no cérebro e é totalmente inconsciente. A reação do medo pode ocorrer de duas maneiras: rápido e desordenadamente ou lentamente após a interpretação mais precisa dos eventos. Ambos os processos acontecem simultaneamente. O tálamo decide para onde enviar os dados sensoriais recebidos dos olhos, da boca ou da pele. O hipocampo armazena e busca memórias conscientes, além de processar conjuntos de estímulos para estabelecer um contexto.
  O córtex sensorial interpreta os dados sensoriais. A Amigdala decodifica as emoções, determina possíveis ameaças e armazena memórias do medo. O Hipotálamo ativa as reações de luta e fuga, para isso são ativados dois sistemas: o sistema nervoso simpático usa vias nervosas para iniciar reações no corpo e o sistema adrenocortical usa a corrente sanguínea. Os efeitos combinados dos dois sistemas são a reação de luta ou fuga.
Ocorrendo mudanças no corpo como o aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, as pupilas dilatam para receber a maior quantidade possível de luz, as artérias da pele se contraem para enviar uma quantidade de sangue mais significativa aos grupos musculares maiores (reação responsável pelo "calafrio" muitas vezes associado com o medo - há menos sangue na pele para mantê-lo aquecido), o nível de glicose sanguínea diminui, os músculos enrijecem, energizados por adrenalina e glicose (reação responsável pelos arrepios - quando pequenos músculos conectados a cada pêlo da superfície da pele tencionam, os fios são forçados para cima, puxando a pele com eles), a musculatura lisa relaxa para permitir que entre uma maior quantidade de oxigênio nos pulmões, os sistemas não essenciais (como o digestivo e o imunológico) são desligados para guardar a energia para as funções de emergência e ocorre uma enorme dificuldade para se concentrar em outras tarefas pequenas, ou seja, o cérebro deve se concentrar unicamente em determinar de onde vem à ameaça.
O Sistema Nervoso Simpático usa as vias nervosas através do tronco encefálico que possui diversas ramificações pela coluna espinhal, as quais se interligam com todos os órgãos do corpo, recebendo e enviando mensagens para os neurônios através das ramificações neurais ali existentes.
No tronco encefálico estão localizados vários núcleos de nervos cranianos, viscerais ou somáticos, além dos centros viscerais como o centro respiratório e o vasomotor. A ativação destas estruturas por impulsos nervosos de origem telencefálica ou diencefálica ocorre nos estados emocionais, resultando nas diversas manifestações que acompanham a emoção, tais como o choro, as alterações fisionômicas, a sudorese, a salivação, o aumento do ritmo cardíaco, etc. Além disto, as diversas vias descendentes que atravessam ou se originam no tronco encefálico vão ativar os neurônios medulares, permitindo aquelas manifestações periféricas dos fenômenos emocionais que se fazem por nervos espinhais ou pelos sistemas simpático e parassimpático sacral. Deste modo, o papel do tronco encefálico é principalmente efetuador, agindo basicamente na expressão das emoções. Contudo, existem dados que sugerem que a substância cinzenta central do mesencéfalo e a formação reticular podem ter, também, um papel regulador de certas formas de comportamento agressivo. Cabe lembrar também que no tronco encefálico origina-se a maioria das fibras nervosas monoaminérgicas do sistema nervoso central, destacando-se aquelas que constituem as vias serotoninérgicas, noradrenérgicas e dopaminérgicas. Estas vias projetam-se para o diencéfalo e telencéfalo e, deste modo, exercem ação moduladora sobre os neurônios e circuitos nervosos existentes nas principais áreas encefálicas relacionadas com o comportamento emocional. É especialmente importante à via dopaminérgica mesolímbica, que se projeta especificamente para áreas altamente relevantes à regulação dos fenômenos emocionais, como o sistema límbico e a área pré-frontal. Em síntese, embora os centros encefálicos mais importantes para a regulação das emoções não estejam no tronco encefálico, estes centros sofrem influência de neurônios nele localizados, através das vias monoaminérgicas que aí se originam. (MACHADO, 2005 p.272)

A Raiva: Um disparador universal da raiva é "estar em perigo". Expressar-se através de um comportamento passageiro ou prolongado, resultando, geralmente em agressão.  São sinônimos desse sentimento a ira, a cólera, o ódio e o  rancor. A glândula suprarrenal (Anexos-Imagem 1) libera uma carga extra de adrenalina no sangue. O aumento da concentração de adrenalina aumenta o número de batimentos cardíacos e, simultaneamente, torna mais estreitos os vasos sanguíneos, o que aumenta a pressão arterial. O perigo pode ser um insulto, uma humilhação, uma ameaça física ou simbólica a autoestima ou dignidade, tratamento injusto ou grosseiro,... Essas percepções atuam como gatilho no Sistema Límbico, que tem um duplo efeito sobre o cérebro. É uma emoção relacionada às funções da amígdala, em decorrência de conexões com o hipotálamo e outras estruturas.
Uma parte dessa onda é a liberação de catecolaminas, que geram um rápido surto de energia que duram alguns minutos, durante os quais o corpo se prepara para uma boa briga ou fuga, dependendo de como o cérebro racional avalia a posição.

Impulsos nervosos nelas originados são levados por fibras especiais que terminam fazendo sinapse com os neurônios pré-ganglionares do tronco encefálico e da medula. Por este mecanismo o sistema nervoso central influencia o funcionamento das vísceras. A existência destas conexões entre as áreas cerebrais relacionadas com o comportamento emocional e os neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autônomo ajuda a entender as alterações do funcionamento visceral, que frequentemente acompanham os graves distúrbios emocionais. (MACHADO 2005 p.137).

Outra via impulsionada pela amígdala percorre o ramo hipotálamo-adrenocortical, criando um estado corpóreo de prontidão para a ação, que pode durar horas ou até mesmo dias fazendo com que o cérebro fique em vigia e reações posteriores podem se formar com rapidez. O indivíduo com raiva tende a ser mais detalhista sobre diversos aspectos, utilizando ao máximo seu potencial de memória, raciocínio e estratégia. Os processos hormonais e físicos entre o medo e a raiva são semelhantes.
Tristeza (latim tristia): é um estado afetivo duradouro caracterizado por um sentimento de insatisfação e acompanhado de uma desvalorização da existência e do real. “O cair das expressões de tristeza encontra correspondência tangível nos micromovimentos de nossas expressões faciais. Um dos primeiros sinais perceptíveis de tristeza é o cair do canto dos lábios” (FRAZZETTO, 2014 p.120). A tristeza é uma experiência comum e é parte do processo normal da criança e do adulto. Na infância ao encarar e entender as emoções a criança se trona mais independente. Toda vez que uma criança se separa de um ente querido, ela terá que lidar com uma pequena perda. Se a mãe não pode permitir o sofrimento menor envolvido, a criança nunca aprenderá a lidar com a tristeza por si mesma. Ao estimular excessivamente a criança para que supere uma tristeza, desvaloriza-se a emoção para elas. O importante é respeitar o direito da criança em experimentar uma perda completa e profundamente, onde a tristeza não é "permitida" pode causar problemas emocionais profundos, porque com a tristeza "desativada" torna o ser humano superficial.
No processo de tristeza as áreas cerebrais ativadas são as de regiões límbicas, ocorrendo ainda à desativação de áreas do córtex cerebral e a diminuição do metabolismo da glicose no córtex pré-frontal. O tálamo desempenha um papel importante na regulação dos estados de sono e vigília, explicando os quadros de insônia ou sonolência nos pacientes entristecidos.
A Culpa: é o termo usado para os sentimentos negativos que repetidamente sentidos quando se comete um erro que se o considera grave, ou quando se deve fazer algo que gostaria de não fazer ou de não tê-lo de fazer.
O sentimento de culpa é uma parte natural da vida e realmente desempenha uma função adaptativa que ajuda a aprender com as experiências dolorosas ou assustadoras. “A culpa costuma materializar-se em sonhos, disfarçada em permutações indecifráveis e por vezes, bizarras”. (FRAZZETTO 2014, p.51). Apesar da crença comum no contrário, a experiência da culpa não é totalmente negativa, improdutiva e destrutiva. Entender como lidar com o sentimento de culpa é um desafio para muitos, aprender a retirar o que lhe serve minimizando os danos e enfrentando a vida por outra perspectiva. Se a interpretação da culpa servir, funcionará certamente como um elemento para o desenvolvimento pessoal. No entanto, muitos se sentem culpados com bastante frequência levando-os para caminhos autodepreciativos e destrutivos.
A culpa produz uma carga excessiva de estresse. De acordo com o site http://drauziovarella.com.br/drauzio/estresse-e-depressao/:
Neurocientistas proeminentes defendem a teoria de que o mecanismo através do qual o estresse induziria depressão estaria ligado ao hipocampo: os hormônios do estresse suprimiriam o nascimento de novos neurônios nessa estrutura crucial para o processamento da memória. Tal suspeita ganhou ímpeto especialmente depois da publicação, meses atrás, de uma descoberta inesperada: depois de duas ou três semanas de tratamento com drogas antidepressivas começam a nascerem novos espinhos dentríticos nos neurônios no hipocampo (neurogênese). Esse achado explicaria também por que, apesar de os antidepressivos elevarem imediatamente os níveis cerebrais de serotonina, sua ação benéfica só se manifesta semanas mais tarde.

Para a Psicologia, a culpa, quando chega a ser considerada um obstáculo pelo individuo que o sente, é resultado de um inadequado crescimento pessoal, mas não é considerada uma psicopatologia, uma doença. Sendo assim, o sentimento de culpa pode ser apenas limitação momentânea no processo de auto realização. Estudos buscam mapear as regiões do cérebro onde possivelmente se processaria o sentimento de culpa.
Partes do córtex orbitofrontal e partes do córtex pré-frontal dorsal medial de envolveram na lembrança da culpa, porem, mais importante, não durante a lembrança da vergonha nem da tristeza. Pelo que aprendemos dessas duas regiões do córtex pré-frontal, esses resultados não surpreendem. Como a culpa tem a ver com as escolhas e tomada de decisões, esperaríamos que ela atuasse nas áreas cerebrais que costumam estar envolvidas no controle inibidor do comportamento, que é necessário quando analisamos as consequências de atitudes erradas ou causadoras de problemas. (FRAZZETTO, 2014 p.66).
O sentimento de culpa é único para cada indivíduo, tão particular que, analisando o mesmo fato, os níveis de culpa de cada ser serão diferentes.
O sentimento constante e excessivo de culpa pode se transformar em estresse; e sob níveis de estresse intenso o corpo desencadeia inúmeras reações de mal estar em função da produção excessiva do hormônio cortisol. De acordo com o site: http://www.isaacbenchimol.com.br/endocrinologia/interesse-geral/129-hormonios-aiba-mais,
Esse hormônio é produzido nas glândulas suprarrenais. O cortisol é o responsável pelo sentido de alerta, luta ou fuga. Produzindo sintomas como taquicardia, boca seca e estômago embrulhado. Atua nos vasos sanguíneos, mantendo a pressão arterial e o sentido de vigília; atua no metabolismo da glicose, aumentando a resistência insulínica para aumentar a oferta de glicose aos músculos e ao cérebro. Facilita o aparecimento de Diabetes tipo Dois e dos distúrbios cardiovasculares. Nas células atua diminuindo a resposta inflamatória. No coração estimula a contração muscular e os batimentos cardíacos.
A alegria: é um sentimento de contentamento, de prazer de viver, satisfação, exultação, felicidade. Costuma expressar-se, nos humanos, através de sorrisos.
A felicidade é um estado de satisfação, de plenitude e equilíbrio físico e psíquico, em que as emoções vão desde o contentamento até a alegria intensa, bem-estar espiritual ou paz interior. “Diante de um centro emocional mais positivo, o indivíduo constrói pensamentos mais criativos, otimistas e divergentes, mas mais ficcionistas”, ALVARENGA (p.19). É difícil definir ou medir a felicidade. Ao sentir-se bem o organismo ativa o centro de recompensa do cérebro, onde o hipotálamo produz o hormônio ocitocina, além de outros estímulos corporais produzindo sensação de bem-estar, como descreve Goleman (1995p. 18):
Sob tensão (ou ansiedade, ou provavelmente até mesmo intensa excitação de alegria), um nervo que vai do cérebro às glândulas suprarrenais acima dos rins provoca uma secreção dos hormônios epinefrina e norepinefrina, que invadem o corpo, preparando-o para uma emergência. Esses hormônios ativam receptores no nervo vago; embora este transmita mensagens do cérebro para regular o coração, também transmite sinais de volta para o cérebro, disparados pela epinefrina e norepinefrina. A amígdala é o principal ponto no cérebro para onde vão esses sinais; eles ativam neurônios dentro dela que enviam sinais a outras regiões cerebrais, a fim de fortalecer a memória do que está acontecendo. Esse estímulo da amígdala parece gravar na memória a maioria dos momentos de estímulo emocional de maior grau de intensidade - por isso é que é mais provável, por exemplo, lembrarmos de onde tivemos um primeiro encontro amoroso, ou o que fazíamos quando ouvimos a notícia de que o ônibus espacial Challenger explodira. Quanto mais intenso o estímulo da amígdala, mais forte o registro; as experiências que mais nos apavoram ou emocionam na vida estão entre nossas lembranças indeléveis. Isto significa, na verdade, que o cérebro tem dois sistemas de memória, um para fatos comuns e outro para os emocionalmente carregados. GOLEMAN (1995 p. 18).

O “sistema de recompensa” o qual gera prazer, satisfação, alegria, está relacionado ao hipotálamo havendo conexões com o septo, a amígdala, algumas áreas do tálamo e os gânglios da base e também está ligado ao córtex pré-frontal integrando as habilidades cognitivas ao prazer. Cada sistema processa de forma diferente as informações recebidas.
O cérebro tem um centro dedicado ao prazer que é normalmente chamado de “sistema de recompensa”. Devido ao antigo proposito evolucionário do prazer sensorial, o sistema de recompensa é um recurso primordial e parte essencial do cérebro, e não apenas em seres humanos – para se ter uma ideia, abelhas, ratos, cães e elefantes têm sistemas de recompensa comparáveis. (FRAZZETTO 2014, p.192)
O funcionamento adequado do sistema de recompensa permite a sobrevivência e a reprodução das diversas espécies, mantendo os comportamentos essências de alimentação e relações sexuais experiências satisfatórias. O sistema de recompensa compreende a maneira imediata e crua das situações apresentadas, o que é ótimo para perceber e registrar experiências de recompensa; o córtex pré-frontal processa a informação de maneira gradual e necessita ser exercitado para interpretar corretamente as situações apresentadas. Juntos os dois sistemas, recompensa e pré-frontal, formam pensamentos minunciosamente satisfatório para ambos; Que seja correto e traga recompensas.
Um dos neurotransmissores do sistema de recompensa é a dopamina. A circulação dela no sistema nervoso causa a sensação de euforia, hiperatividade, aumento da disposição e da movimentação. “A dopamina também ajuda a nos concentrar. Ela melhora nossa atenção e direciona nossa concentração e ações.” (FROZZATTO, 2014 P. 194).
O poder do riso ativa a produção de endorfinas e diminui o nível do cortisol. A pressão arterial aumenta durante o riso, mas logo, cai abaixo dos níveis de repouso pouco depois. Há uma redução da tensão neuromuscular depois de um forte riso. O ar é expelido em grande velocidade dos nossos pulmões e do nosso corpo quando damos uma boa gargalhada. O nosso corpo fica muito mais oxigenado, inclusive o nosso cérebro. É orientado sorrir para a busca do prazer ou para afastamento da dor. De acordo com o site http://www.isaacbenchimol.com.br/endocrinologia/interesse-geral/129-hormonios-saiba-mais
A ocitocina é produzida no hipotálamo, é o hormônio da paz e do amor-felicidade. Atua em regiões como o útero, mamas, pâncreas, testículos, cérebro. No cérebro tem a função de ativar as regiões cerebrais relacionadas às sensações de autoconfiança, afeto e relaxamento (sensações de felicidade). É um hormônio fortemente associado ao nosso comportamento e as relações amorosas. A dopamina, a adrenalina e a noradrenalina também são hormônios da felicidade e do prazer produzidos na medula da suprarrenal e gânglios. São hormônios que participam do sistema de recompensa do cérebro. Quando algo gera prazer, deseja-se repetir o acontecido, seja na realização sexual ou uma comida saborosa.
Esses são alguns dos processos emocionais vivenciados pelos seres humanos diariamente, como também, pelas crianças/adolescentes com dificuldades familiares. Ela, a criança, dificilmente irá se expressar verbalmente sobre os seus sentimentos, mas através do conhecimento do processo psicoemocional e aas reações físico-corporais das emoções, os profissionais e familiares podem compreender e conduzir a situação de maneira a beneficiar todos os envolvidos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Tudo que o individuo vivencia desde o período intrauterino influência em seu comportamento. Através da ligação pelo cordão umbilical com a mãe, o feto recebe as descargas hormonais decorrentes das emoções vivenciadas pela mesma, arquivando tais efeitos corpóreos em seu sistema cerebral inicial. Com a recorrente repetição de tais eventos o cérebro tende a memorizar a situação agradável ou desagradável, memorizando também as tarefas que desempenhará na sequencia.
            A genética vem realizando inúmeras descobertas, explicando e comprovando através do DNA o comportamento humano, algumas preferencias, a cadeia evolutiva do homo sapiens e desvendando uma parte do futuro. Através do feto se realizam inúmeras possibilidades: cor dos olhos, comportamento, tendências patológicas, entre outras.
O espaço onde ocorrem as intervenções seja na infância ou na adolescência interfere na maneira como o indivíduo se comportará socialmente, após internalizar uma maneira de ser e agir ele é sim capaz de mudanças comportamentais. Até os adultos são capazes de largar velhos hábitos, por que uma criança não? A metamorfose acontece quando o individuo percebe que ela é necessária.
A partir do momento que procurar o autoconhecimento o individuo passa a planejar seu futuro com perspectivas reais, sendo o sujeito da ação, buscando o aperfeiçoamento dentro daquilo que julga ser o certo e que o ambiente onde se encontra julga correto e incentiva. Por isso muitas vezes se está em um ambiente agradável, porém o estimulo gerado nesse não é o agradável; exemplo disso são pais e profissionais que desestimulam os indivíduos ao seu redor, minimizando a autoestima dos mesmos.
Várias teorias de psicologia sobre o comportamento vêm sendo alicerçadas com os estudos neurológicos realizados. Através do conhecimento fisiológico das reações emocionais, da genética “rabiscando” o funcionamento do comportamento e alguns conhecimentos psicológicos acompanhando os indivíduos, há de se ter o cuidado de num futuro distante todos necessitarem possuir os mesmos sentimentos.


REFERÊNCIAS

ALFANDÉRY, Hélène Gratiot. [Tradução e organização] Patrícia Junqueira. Henri Wallon. Coleção Educadores MEC _ Fundação Joaquim Nabuco. Editora Massangana. 2010.
ALVARENGA, Galeno Procópio M. O poder das emoções, 1ª Edição. 2007.
ALVES, Rubem. Educação dos sentidos e mais. Campinas, São Paulo – SP. Editora Verus, 2005.
ANTUNES¹, Celso. A memória: como os estudos sobre o funcionamento da mente nos ajudam a melhorá-la. Fascículo nove, 7ª edição. Petrópolis, Rio de Janeiro. Editora Vozes. 2012.
ANTUNES², Celso. Relações interpessoais e autoestima. A sala de aula como um espaço do crescimento integral. Fascículo 16. 10ª edição. Petrópolis, Rio de Janeiro. Editora Vozes, 2014.
BOCK, Ana M. Bahia; FURTADO, Odair. TEIXEIRA Maria de Lourdes T. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. 8ª edição - Editora Saraiva São Paulo - SP, 1995.
CURY, Augusto. O código da inteligência. Rio de Janeiro, Editora Sextante, 2015.
EKMAN, Paul. A linguagem das emoções. [Tradução de] Carlos Szlak. Ed. Lua de Papel. São Paulo, 2011.
FRAZZETTO, Giovanni. Alegria, culpa, raiva, amor. O que a neurociência explica e não explica sobre nossas emoções e como lidar com elas. [tradução de] Carolina Coelho- Rio de Janeiro. Editora Agir, 2014.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. São Paulo. Editora Objetiva, 1995.
KOLLER, Silvia Helena. Ecologia do desenvolvimento humano: pesquisa e intervenção no Brasil - 2ª edição. São Paulo, Editora Casa do Psicólogo, 2011.
MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional, 2ªEdição. Editora Atheneu. RJ, 2005.
PAPALIA, Diane E. OLDS Sally. FELDEMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento Humano. [Tradução] Carla Filomena Marques Pinto Vercesi. 10ª Ed. Porto Alegre. Editora Artmed, 2010.
VASCONCELOS, Ana. Manual compacto de sociologia. 1ª edição. São Paulo. Editora Rideel. 2010.
TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. São Paulo. Editora Integrare. 2013.
ZAGURY, Tania. Educar sem culpa: gênese da ética. Rio de Janeiro, 6ª edição – Editora Record, 1995.
Sites:
























ANEXOS

Imagem 1
GLANDULA SUPRARRENAL:
Glândula suprarrenal
Esquema que mostra a relação das glândulas suprarrenais com os rins.
Glândula suprarrenal

 

 

 

 

 

 

 

Imagem 2

 

AMÍGDALA CEREBEROSA

Origem: https://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%ADgdala_cerebelosa

Imagem 3
SISTEMA LÍMBICO
              


Imagem 4

Sistema Límbico.


O Homem deve saber que é no cérebro, e somente do cérebro,





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