FONTE : http://meucerebro.com/inteligencias-multiplas-como-aprender-melhor/
Aprendendo de múltiplas maneiras
“O homem limitado e restrito do início do século XX é gloriosamente substituído pela ciência do nascer do século XXI por um novo homem, múltiplo, holístico, ilimitado na capacidade de expansão de seu cérebro. Alguém que, se quiser, tem muito pouco a perder e todo futuro a ganhar.”
Celso Antunes
A sala de aula é um verdadeiro laboratório de neuroaprendizagem. Um espaço de encontro entre diversos saberes onde cada pessoa traz consigo experiências diferenciadas. Agregadas a fatores genéticos e culturais, tais experiências a faz diferente, singular, única no seu modo de ser e estar. O cérebro possui bilhões de neurônios e trilhões de sinapses. Imaginem 15, 20, 30 delas juntas numa única sala de aula. Poeticamente, poderíamos dizer que há uma galáxia de neurônios habitando cada contexto escolar.
É muito neurosaber num único espaço. Se antes os alunos vinham para adquirir conhecimento, hoje percebe-se que o desafio está embasado nos 4 pilares da educação: “aprender a conviver/ser”, “aprender a aprender/fazer” e o elemento chave para esta aprendizagem continua sendo o professor. É ele quem vai ser o potencializador das aprendizagens; ele é o articulador das múltiplas inteligências que habitam o contexto educacional. Conforme Palmini (2011), “se existe algo que todo avanço tecnológico na área das neurociências está mostrando é que o papel do professor é cada vez mais – e não cada vez menos – importante nos processos educacionais.” E, nesse sentido, Antunes (2015, p. 15) complementa: “o professor não perde espaço nesse novo conceito de escola. Ao contrário, transforma a sua na mais importante das profissões, por sua missão de estimulador da inteligência e agente orientador da felicidade. ”
Em tempos neurocientíficos, dinâmicas de aulas pautadas quase que somente nas inteligências linguística e lógico-matemática já não são mais suficientes, pois nos descobrimos como seres de potencialidades. Isto requer que o professor faça seu planejamento objetivando com que mais áreas de nossa arquitetura cerebral sejam colocadas em funcionamento. As aulas de matemática podem vir com o som da música, da leitura do problema a ser resolvido, da dramatização do exercício, da confecção e manuseio de materiais para a resolução do enunciado, da introspecção do aluno para tentar resolver a atividade, da partilha no grupo daquilo que entendeu sobre a mesma e, quem sabe, tudo isso possa ser feito ao ar livre, em algum espaço da escola.
E qual a importância dessas atividades multidisciplinares para os alunos? Simples: a exploração dos sentidos, a ampliação de suas percepções, a oportunidade de desenvolver mais inteligências (competências e habilidades). Todos possuímos mais do que uma inteligência, mas elas podem permanecer adormecidas caso não sejam estimuladas. Por isso é essencial proporcionar situações para que elas floresçam.

Neurologicamente, as experiências são oportunidades para nosso cérebro ir se aperfeiçoando. Se um indivíduo vive num ambiente onde nunca lhe é proposto atividades cinestésico-corporais, de que forma poderá aflorar um ator, atleta, bailarino, mímico ou cirurgião? De que forma este cérebro irá entender que ele possui condições de realizar estas atividades? O estímulo do ambiente também é fator determinante na reorganização cerebral e nesse sentido a teoria de Howard Gardner, as Inteligências Múltiplas, nos diz que todos somos capazes de conhecer o mundo através da linguagem, da análise lógico-matemática, da representação espacial, da música, do uso do corpo para resolver problemas ou para desempenharmos certas atividades, da interação com a natureza, da compreensão de outras pessoas, e compreensão de nós mesmos.
O professor deve ter a competência de proporcionar atividades que contemplem todas as inteligências, fazendo com que o aluno possa aperfeiçoar aquilo que já tem de melhor. E, ao mesmo tempo, resgatar este indivíduo proporcionando-lhe o vivenciar de todas essas inteligências:
Cinestésico-corporal
Envolve coordenação e destreza física, usando as habilidades motoras amplas e finas, expressando-se ou aprendendo através de atividades corporais/sensoriais. Ela pode ser intensificada através de dramatização/mímica, atividades esportivas e atividades de dança.
Interpessoal
Envolve a habilidade e competência de relacionar-se com o outro. Ela pode ser intensificada através de jogos cooperativos, projetos em grupo e gincanas escolares.
Intrapessoal
Envolve a compreensão de si, o entendimento de suas próprias intenções, objetivos e emoções. Ela pode ser intensificada através de atividades que contemplem a autoavaliação, a introspecção, o falar sobre si mesmo e sobre seus sentimentos (alfabetização emocional).
Linguística
Envolve a leitura, a escrita, a fala, a apropriação e fluência em idiomas, a facilidade para usar a “lábia” para alcançar objetivos. Ela pode ser intensificada através da leitura e escrita de textos ou livros, jogos envolvendo comunicação, uso de vários tipos de tecnologia e apresentação de trabalhos para outras pessoas.
Lógico-matemática
Envolve o pensamento dedutivo e o raciocínio lógico, o uso de números e outros símbolos matemáticos e a investigação de questões científicas. Ela pode ser intensificada através de jogos e desafios que envolvam o raciocínio lógico.
Musical
Envolve a compreensão e a expressão através da música e movimentos rítmicos, dança e sons. Habilidade de compor e apreciar padrões musicais. Ela pode ser intensificada através de propostas que contemplem a música: jogos e atividades rítmicas, cantar, dançar, tocar instrumentos e compor músicas.
Naturalista
Envolve a compreensão e a observação da flora e da fauna. Ela pode ser intensificada através de atividades que contemplem a exploração do ambiente, do estudo de animais e da criação de propostas de sustentabilidade locais e planetárias.
Visual-espacial
Envolve a percepção visual do ambiente, a capacidade de criar e manipular imagens mentais e a orientação do corpo no espaço. Ela pode ser intensificada através de experiências envolvendo artes gráficas e plásticas e de exercícios que contemplem as habilidades de observação. O uso de games também é muito eficaz.
A verdade é que podemos aprender de múltiplas maneiras. Porém, cada indivíduo se diferencia no uso dessas inteligências, na maneira como elas são evocadas e combinadas para realizar diferentes tarefas. Inteligência também se aprende! Por isso, o papel do professor é essencial ao fazer o aluno empregar múltiplas habilidades. Em alguns casos, poderá fazer com que o mesmo supere limitações genéticas. Antunes (2015, p.106) cita o exemplo de Garrincha: mesmo com as “pernas tortas” conseguiu mostrar toda a exuberância de suas inteligências cinestésico-corporal e visual-espacial.

Gardner criou esta teoria estudando o comportamento humano, independente de crianças/pessoas normais, superdotadas ou com alguma dificuldade de aprendizagem. Acabou contestando o famoso teste de QI, elaborado por Binet, pautado nas inteligências lógico-matemática, linguística e na rapidez com que os testes eram resolvidos. Hoje, através de Gardner, conseguimos perceber a importância dos estímulos adequados para o desenvolvimento das múltiplas inteligências. Adultos, inclusive, podem se perceber examinando potenciais deixados adormecidos durante alguma fase de suas vidas.
Quando alunos são desafiados a demonstrar conhecimentos e habilidades de diferentes formas, automaticamente lhes é proporcionado o aumento do envolvimento na aprendizagem, ampliando suas vivências e, consequentemente, aumentando o número de conexões sinápticas. As aulas se tornam mais interessantes e menos propensas à indisciplina.
Fontes:
- ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 2015.
- ARMSTRONG, Thomas. Inteligências Múltiplas na Sala de Aula. Porto Alegre: Artmed, 2001.
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